28.11.03

BdE - Blogue de Esquerda (II)

O novo endereço do BdE baralhou-me porque me esqueci do "com" e... falhei mil tentativas! Reponho tudo na linha: o Bde é aqui e este é o novo endereço electrónico! Tudo bem, Zé Mário e C.ª! Esta Sopa deseja-vos mil anos de estética!

Blogue de Esquerda

A notícia coloca-nos entre a surpresa e o espanto: o blog-de-esquerda mudou de endereço. Questões de táctica ou de nacionalismo "pt"? Vá lá, Zé Mário, diz-nos quatro vantagens do "weblog.pt" ! Já que o Barnabé não nos diz e o Daniel Oliveira anda sem veia... Entretanto, tomem nota: é aqui !

27.11.03

Ramos Rosa

Com saudades do homem e de um verso, regresso ao último "Os Animais do Sol e da Sombra":

"E embora num voo incerto estou no centro
da liberdade (...)"

É que a Liberdade está a passar por aqui.

António Lobo Antunes

Tens entrado pouco por esta porta mas hoje, com sol sobre a Linha, lembrei-me do teu Prémio União Latina, ontem entregue em Roma ( deveria lembrar-me é dos teus livros, claro!) e das frases que apareceram citadas na imprensa sobre a escrita e os escritores. E cito-te, recordando a vieira negra que encontrei na praia do Lido, em Veneza:

- "o escritor é como um boi, deve marrar, marrar... O bom escritor é o que mais trabalha."

E sobre a escrita e a mesa de "snooker":
- "O problema é que os buracos mudam de sítio, as bolas mudam de cor e aparecem sempre novas bolas... e não podemos pôr giz no taco."

E sobre a escrita e o equilibrista:
- "Como os pratos em cima das varas, no romance devemos estar atentos a estes equilíbrios."

Fernando Assis Pacheco

Há oito anos, em 30 de Novembro de 1995, Fernando Assis Pacheco deixou-nos, com uma obra suspensa. Chegou a hora de a Assírio & Alvim publicar 34 poemas inéditos, com o título "Respiração Assistida". Ah, Fernando, ficam-nos mais vivas as saudades e a memória de "A Musa Irregular" e dos "Trabalhos e Paixões de Benito Prado". Mas, agora, este inédito "desversos", que me apetece dedicar ao Paulo Portas, não sei por quê. Permites, Fernando Galego?

este ministro é um mentiroso
que agonia quando ele discursa
e se fosse só isso : bale sem jeito
às meias horas seguidas - e não pára!

bem aventurados os duros de ouvido
a quem o céu abrirá as portas
desliguem p.f. o microfone
ou então tirem o país da ficha

24.11.03

Mário de Carvalho

Um excerto do romance "Fantasia para Dois Coronéis e uma Piscina" (Caminho, 2003):

"Assola o país uma pulsão coloquial que põe toda a gente em estado frenético de tagarelice, numa multiplicação ansiosa de duos, trios, ensembles, coros. Desde os píncaros de Castro Laboreiro ao Ilhéu do Monchique, fervem rumorejos, conversas, vozeios, brados que abafam e escamoteiam a paciência de alguns, os vagares de muitos e o bom-senso de todos."

Fantasia

Acaba de sair o novo romance de Mário de Carvalho, "Fantasia para Dois Coronéis e uma Piscina", Desde 1995 ou desde "Era Bom que Trocássemos uma Ideias sobre o Assunto" que não tínhamos um romance do queridíssimo Mário. As crónicas ou artigos de opinião, aqui e ali, eram pouco mas davam-nos um cheirinho do espírito crítico sempre em movimento de MC. Agora, respigo de uma entrevista ao "JL" (12.11.2003), uma frases que nos levam ao céu:

-" (o país) está completamente dependente de um vocabulário rasca, do futebol e do lixo televisivo, fenómenos que minaram todas as nossas reservas de crítica e de bom gosto. (...) Dá vontade de emigrar !"

- "O Portugal que predomina é javardo.Neste momento, há várias maldades que se fazem até à paisagem auditiva."

- "Ainda hoje o pude constatar quando abri um tablóide e vi alguém afirmar que a astrologia é uma ciência. Isto 600 anos depois de Frei António de Beja ter feito uma exortação, perfeitamente fundamentada, contra os astrólogos."

22.11.03

Lisboa

Longe, ainda, dos jornais de sábado, aterro em Lisboa, às onze da manhã. Há sol por todo o lado e eu choro de saudades. Havia nuvens luminosas sobre a cidade parada. Escrever aqui é um exercício normal. Os escritores todos do mundo todo deveriam viver neste país de luz coada, atravessada de mar e montes, cheirando a fetos e a sobreiros, a rosmaninho e castanheiros. Vou já reler o Cesário Verde. Apetece-me chorar outra vez.

21.11.03

2004

O mal-estar acumula-se. O mundo, de facto, não está mais seguro. A depressão bate no fundo da depressão e até o tempo está de cinza em toda a Europa. Haja prospecção, olhar atento para o futuro próximo. Para 2004, quase a chegar, este olhar laboral:

- 2004 é um ano bissexto : mais um diazito de trabalho !
- o 25 de Abril calha a um domingo : mais um diazito de trabalho !
- o 1.º de Maio calha a um sábado : mais um diazito de trabalho !
- o 10 de Junho, Dia de Portugal e das Comunidades, é, também, dia do Corpo de Deus, dois feriados num só : mais um !
- o 13 de Junho, feriado municipal em Lisboa, calha a um domingo : mais um diazito para os lisboetas e Santo António !
- o 15 de Agosto calha a um domingo : mais um diazito de trabalho !
- O Natal calha a um sábado : mais um diazito de trabalho !
- O dia 1 de Janeiro de 2005 calha a um sábado !

Conclusão: com tantos dias de trabalho, a "retoma" será em 2004 e não no ano das eleições, em 2006! Haja alegria !

Funchal

Ando com este livro de Gaspar Frutuoso encostado ao peito. Levei-o à Madeira e trouxe-o para Londres. Hoje, ainda cansado da manif de ontem, sentei-me neste cafezito ao pé do Tamisa, com o Parlamento ao lado, e pus-me a saborear este texto do século XVI, numa edição de 1870 ( Funchal, Typ. Funchalense), cuja ortografia vou "modernizar". É um pedaço da "descoberta" da Madeira, sob o comando de João Gonçalves Zargo, o Zarolho:

"Chegados ao formoso vale, viram que de lisos e alegres seixos era coberto, sem haver outro género de arvoredo senão muito funcho, que o cobria até ao mar por bom espaço; e saíam deste deleitoso vale ao mar três grandes e frescas ribeiras, ainda que não tão soberbas na aparência como a de Machico; eram porém muito formosas, por todas virem acabar no mar saídas deste vale. E pelo muito funcho que nele o capitão achou, lhe pôs nome o Funchal (onde depois fundou uma vila deste nome, que já neste tempo é uma nobre e sumptuosa cidade), no cabo do qual estão dois ilhéus, onde se foram abrigar por ser já tarde; e tomaram em terra água e lenha com que em um deles fizeram de cear de muitas aves que tomaram. Depois disto, foram dormir aos barcos, e, como foi manhã, passaram mais abaixo e, chegados a uma ponta, que dantes tinham visto, mandou o capitão pôr nela uma cruz, donde lhe ficou o nome Ponta da Cruz. Dobrando esta ponta, foram dar em uma formosa praia que, pela formosura e assento dela, o capitão lhe pôs o nome a Praia Formosa." (p. 39)

20.11.03

Londres

Também eu estou em Londres. Ao lado de todos os que não suportam esta política de desastre de G.W.Bush. E pertíssimo deste grupo da Amnistia Internacional que, de boca tapada e fatos de prisioneiro americano, protestam contra as detenções ilegais em Guantánamo, pelo direito à Justiça. Hoje, não poderia ficar calado, solidário com todas as vítimas, qualquer que seja o país, a raça, o sexo ou a religião. Choro na Turquia e no Iraque, na Palestina e em Israel, no Afeganistão ou na Coreia do Norte, no Vietname ou em Cuba, na Arábia Saudita ou na China, e em todos os lugares onde a Liberdade mora ao lado.

Espécies

A União Mundial para Conservação ( UICN ) divulgou, há dois dias, a "lista vermelha" das espécies ameaçadas no mundo. São 12 mil, nesse apocaplíptico rol de árvores e animais. Ainda é cedo para um "Requiem" mas dá que pensar. Visitemos, então, o Jardim Tropical. Ali, na sombra silenciosa, poderemos pensar na destruição que propagamos.

Jardim Tropical

19.11
Jardim Tropical.
Fica ali, ao pé do Mosteiro dos Jerónimos, mesmo atrás da centenária casa dos Pastelinhos de Belém e, já agora, daquele Chão Salgado onde o Marquês de Pombal mandou torturar e queimar o duque de Aveiro e a família dos Távoras, naquele dia frio e vergonhoso de 1758.
Esquecido e desconhecido, este Jardim é um dos recantos limpos da cidade. O silêncio, vestido por exóticas árvores ( com o nome comum e o nome científico ali à mão de semear) reconduz-nos aos oásis perdidos no deserto dos cimentos e dos ruídos. Há verbos para este lugar quase secreto: passear, ler, olhar, apalpar (folhas e troncos), cheirar...
Mesmo algum abandono nos poderá reconduzir a um tempo que demora a destruir. Merece uma visita este Jardim-Museu do Instituto de Investigação Científica Tropical. As portas estão abertas.

18.11.03

"Lupus in Fabula"

Recordo o "lector in fabula" e Umberto Eco, menos predatório, mais em caminho para o interior dos "tecidos"onde o prazer das linhas aflora. Mas este "lupus in fabula", de São Moniz Gouveia (pseudónimo da machiquense Laura Moniz) arrasta-nos às feras predatórias do quotidiano, aos infestantes gestos da perturbação. O livro (n.º 10, da colecção 'Livros de Cordel', Funchal) desassossega-nos, no início, e leva-nos aos lugares pútridos do mundo, aos sítios onde os guerreiros matam e morrem, às lágrimas e aos lamentos. O poema final, já editado neste blogue ("sono de menino") aparece como a asa que fecha e protege ou o sopro que ainda pode tornar os corpos levitantes. Porque a alegria ainda é possível.


lupus in fabula

III

enganaram-se todos.

há lobos pastando sobre os prados
e comem as pastoras, as faces e os saiotes rodados.

há leões sentados nos jardins.
brincam sobre tronos, dançam sobre lápides,
usam como bastonete criancinhas.

há feras e feras, ceiam cordeiros, indefesas crias,
deglutem homilias, tenros ossos.
formigas passeiam no açúcar e no silêncio do grito decomposto,
saboreiam cadáveres com intenso comprazimento na putrefacção,
sem cheiros nem sabores preferidos.
o seu requintado objectivo é saciar a fome,
e choram, choram muito em forma de elegia,
porque o mundo não está cego,
e cedo acordará dentro do insuportável som dos tambores.

17.11.03

"Saudades da Terra"

Este livro de Gaspar Frutuoso ( século XVI ) continua a ser um marco importante no conhecimento das ilhas. Há um sopro inicial que o trespassa e nos aproxima do primeiro momento em que os homens tocam a terra e se espantam com a costa que vão descobrindo, dando nomes, criando o mundo. Li alguns extractos deste "Saudades da Terra" num encontro com alguns alunos do 11.º ano, da Escola Secundária da Levada, no Funchal. Era sexta, dia 14 de Novembro, e estava sol. Falamos das primeiras águas e da fonte "estremada boa". Dos outros adjectivos falaremos depois. Quando as emoções primeiras derem lugar ao silêncio dos afectos que os adjectivos sempre guardam.
Depois das leituras, um almoço no campanário mais alto. Entre amigos, floresce a rosa.

Madeira

Vale a pena sobrevoar o Atlântico para tocar algumas árvores raras, desconhecidas, presas na sombra de muitas flores: o mangueiro, a árvore-de-fogo, a estrelícia-gigante, a maravilha, o pinheiro-da-índia, a canforeira. E, entre verdes diversos, cheirar palavras dispersas na inclinação da Ilha. Tocar, assim, a leveza do poema. Como este de São Moniz Gouveia, no seu livro "Lupus in Fabula":

SONO DE MENINO

carregarei teu fardo, as inúmeras perguntas
do realejo que chora, não por ritual ou por acaso,
mas carregarei teu sono como metal precioso
que jaz à espera dentro da terra.
afugentarei os garimpeiros de todas as partes,
vigiarei os cordeiros e as ovelhas como astuto pastor
e seu cão, trilharei veredas e atrás dos arbustos estarei
mãos entrelaçadas em morfeu, e a ti embalarei,
e encantarei.
sussurrarei às camélias que dispam de seus caules
apenas as pétalas, pois é de mais, é de mais o barulho
de pedra da rosa, ou mesmo da folha,
quando cai em seu leito.

12.11.03

Tabucchi

Foi um dos intelectuais europeus reunidos no Teatro dos Campos Elíseos, em Paris, a convite dos "Repórteres sem Fronteiras". O objectivo deste encontro era chamar a atenção para as prisões, julgamentos sumários e penas de morte "a la minuta", em Cuba. Gostei, sobretudo, de uma frase de Antonio Tabucchi: "nem sequer o sistema de saúde mais exemplar pode ressuscitar homens fuzilados, nem pode ajudar pessoas encarceradas por delitos de opinião".

Abutres

A notícia poderia ter passado despercebida mas, felizmente, saltou para fora do concelho de Idanha-a-Nova: doze abutres mortos e dez moribundos. Dizem que por envenenamento. Como é possível ? Falta de educação ambiental ? Falta de quê ? Vale a pena reflectir neste "fait-divers" do quotidiano lusitano. Mais um.



Iraque, ainda

Às vezes, é preciso dizer que há vergonhas que nos envergonham e crimes de que não queremos ser cúmplices. A ocupação do Iraque aí está, como exemplo. Choremos lá, em Guantánamo e no Afeganistão. Não queremos ser criminosos de guerra. Nós.

11.11.03

Amoreiras

Passei no lugar das "grandes" obras das Amoreiras.Por obrigação. Era manhã lenta mas corrente. Vi dezenas de polícias a sinalizar. Tudo em desordem. São difíceis os caminhos para a cidade. Tudo é centrípeto. Prefiro o mar, os lugares centrífugos. Arrepiam-me os túneis, as vistas curtas, a luz por cima. De Lisboa, virão subterrâneas lâmpadas. Daquela "luz" que "respira a partir do mar" nem a sombra.

Imagem

Ontem, o debate na RTP1, serviu para nos imaginarmos como um conjunto, dentro e fora de Portugal. A sondagem publicada no PÚBLICO transmitia já o essencial: o melhor de nós é a nossa maneira de ser e o pior de nós está nos governantes e diplomatas. Nem mais. Os artistas, escritores e criadores só contam 3% na imagem positiva do país. Desiludam-se, portanto, os intelectuais. O silêncio, a demora, a criação são mais importantes do que os focos das instâncias mediáticas. O sucesso fácil vai-se na primeira chuva. E num campo de produção, consumo e fogos-de-artifício, a criatividade ou as artes aparecem como um campo inútil. Inútil mas absolutamente necessário.

Portugal na Net

A ONU concluiu um estudo sobre a utilização da Internet pelos governos, com o objectivo de explicar aos cidadãos o funcionamento da administração pública e a sua utilização em actos administrativos. A lista dos vinte primeiros não inclui Portugal, o que já nos parece normal. A sequência ordenada: EUA, Reino Unido, Chile, Canadá, Estónia, Nova Zelândia, Filipinas, França, Holanda, Austrália, México, Argentina, Irlanda, Suécia, Alemanha, Coreia do Sul, Itália, Singapura, Suiça e Dinamarca. Há países mais pobres que Portugal nesta listagem dos vinte primeiros. O que mostra que há muito, muito a fazer.

10.11.03

Poema para os 47 anos

Se perguntarem: das artes do mundo ?
Das artes do mundo escolho a de ver cometas
despenharem-se
nas grandes massas de água: depois, as brasas pelos
recantos,
charcos entre elas.
Quero na escuridão revolvida pelas luzes
ganhar baptismo, ofício.
Queimado nas orlas de fogo das poças.
O meu nome é esse.
E os dias atravessam as noites até aos outros dias, as
noites
caem dentro dos dias - e eu estudo
astros desmoronados, mananciais, o segredo.

Herberto Helder ( in "A Última Ciência")

Cunhal

Faz hoje noventa anos. Merece um ramo de cravos vermelhos, apesar de tudo. Resistiu, deu voltas ao fascismo, foi preso, lutou sempre pela liberdade de Portugal e das colónias. Também foi cúmplice das atrocidades estalinistas, das ditaduras marxistas-leninistas ( com hífen! ). A ortodoxia colocou-o ao lado dos dogmáticos. Não há dúvida de que o "socialismo real" não mora na China nem na Coreia do Norte, em Cuba ou no Vietname, como, ainda hoje, para espanto nosso, diz "acreditar". Pobreza sem Liberdade, Repressão sem Democracia, Miséria para o Povo... não foi isso que o Álvaro Cunhal pensou defender mas defendeu e defende. Os seus escritos perdurarão como documentos. Os seus desenhos perdurarão como retratos de uma época de chumbo. Como custa escrever sobre um homem coerente, íntegro, mas intolerante e dogmático! De qualquer modo, uma saudação. Cá estaremos para festejar os cem anos!

6.11.03

Solar

Manhã, viagem, Antena 1. Ouvi um poema da Sophia, dito pela própria poeta. O dia ganhou asas e o sol cortou as nuvens de cinza que enchiam o tecto do Planeta. Vale a pena continuar: leve, solar.a

Campanhas

A moda é doentia mas percorre todos os tecidos urbanos, mediáticos, artificiais. A publicidade às obras feitas ou a fazer ("Já reparou que lhe limpei a secretária, senhor Presidente?", "Já reparou que esta casa de banho tem papel higiénico, senhor utente?", "Já viu que, nesta duna, vai nascer um condomínio fechado de luxo, senhor veraneante?") são uma praga que custa dinheiro. A Câmara de Lisboa gasta centenas de milhares de euros na autopromoção, em vez de tapar os buracos da rua com esse dinheiro. Agora, o Ministério da Saúde publicita a redução das listas de espera, gastando quarenta mil euros na publicidade. Dizem os técnicos que esse dinheirio dava para um by-pass, uma operação cara, e, ainda, oito das operações mais procuradas, como às cataratas, às varizes, reconstrução da mama, etc. Ainda não compreendi como é possível gastar dinheiros públicos, assim com estilo redundante: "Já viram que cortei o cabelo?", "Sabem que o meu perfume foi comprado em Londres?"... Ah, Portugal, se fosses três sílabas apenas!

5.11.03

Envelhecer

Por curiosidade, topei a sondagem encomendada pela farmacêutica Pfizer sobre as cidades europeias preferidas para uma reforma airosa. E as cidades preferidas para envelhecer são: Dublin, Nantes, Antuérpia, Munique, Bilbau, Bergen, Belfast, Ermoupolis... De Portugal, tão necessitado de carinho ou de alguém que nele pense, nada! Esqueceram-se os sondados da minha querida Lagos ( descontam-se os últimos dez anos: a destruição da Meia Praia e de Porto de Mós, sobretudo), tão pegada à zona protegida da costa alentejana, à Sagres mítica, ao verde da floresta de Barão, às praias desertas desse ângulo agudo de Portugal. Ou, então, Tavira: salina, aguada, luminosa, escolhida por Pessoa para berço amplo do Álvaro de Campos, o meu querido engenheiro naval, ali nascido em 1890. Não fosse o rio Gilão e o oceano brando, não teríamos viagem ao Oriente, nem Opiário, nem Tabacaria, nem Ode Marítima, nem Saudação a Walt Whitman. Por isso, te saúdo, cidade encostada ao Sul, quase breve, quase construtora de ilhéus.

Israel

A notícia não é nova mas caiu-me mais uma vez em cima da mesa: Avraham Burg, ex-presidente do Knesset (Parlamento) e antigo presidente da Agência Judaica, anunciou o fim da "revolução sionista" e o risco de um Israel "irreconhecível e odioso", dirigido por uma "clique corrupta, que se ri da moral cívica e do Direito". E A. Burg conclui : "A salvaguarda da democracia israelita exige o regresso às fronteiras de 1967."
Mais um a merecer o Prémio Nobel da Paz, em 2004!

O SILÊNCIO

Se procuras uma pedra na montanha, acende uma luz branda
ou caminha, simplesmente, como aquele que distingue o frio
do gelo ou as águas de um rio das camadas altas dos pólos.
Na senda que te faz, dorme uma flor pequena que nasce.
Amanhã, ficarás espantado com esta inclinação secreta
e dirás que a música é um segredo de iluminação da água
como o silêncio é uma condição de vida e vibração ilimitada.


(do livro "Janela Branca", de Firmino Mendes)

4.11.03

BIBÒ PORTO !


Eduardo Lourenço, em simplicíssima entrevista, consegue atingir o essencial do debate sobre uma "não-razão": a da introdução do nome de Deus na "Constituição Europeia" ( chamemos-lhe assim ). Mesmo a referência ao "judeo-cristianismo" nos espanta! Leiamos, então, as palavras redondas deste pensador português, transcrevendo do DN, de 02.11:

"Como não se conhece país europeu que consigne na sua Constituição uma referência explícita a Deus, ou mesmo à nossa efectiva herança cristã, seria estranho que de tanta abstenção fizéssemos agora uma espectacular afirmação. Mas, se calhar, essa ausência de uma referência "política" a Deus ( como nos Estados Unidos ) ainda é a melhor homenagem que podemos prestar ao nome inconfiscável de Deus. A que título, o mais "desencantado" dos continentes comprometeria Deus na sua escritura profana ?"

Quando tantos sacristas populistas, estilo Paulo Feirinhas, arremessam demagogia a terço para um povo indiferente à "Constituição Europeia", aí está um parágrafo para meditação real e não transcendental. A fixar. A reter e a citar.

Personagem "light"

Fala de uma personagem da literatura "light":

"- Ainda bem que há mais de um ano que não ponho os pés no Centro Comercial Colombo ( CCC ). É que foi noticiado agora que o local é de ataque pedófilo! Até há um relatório do Serviço de Informações e Segurança ( SIS ) ! Da que eu me safei ! Tenho pena é dos "poetas de centro comercial", que vêem namorados aos beijos nas escadas rolantes, como dois moluscos! Não queria estar na pele deles, coitados ! "

Nobel da Paz 2004

Fixem bem esta previsão: em 2004, o filósofo palestiniano Sari Nusseibeh, e o almirante israelita Ami Ayalon ganharão o Nobel da Paz ! Desde 27 de Julho de 2002, trabalham num novo Processo de Paz. A Palestina e Israel precisam dela, depois de mais de cinquenta anos de guerra.

3.11.03

Yitzhak Rabin

Em 4 de Novembro de 1995, Yitzhak Rabin, primeiro-ministro israelita, foi assassinado por um extremista judeu. Anteontem, comemorando este aniversário, mais de cem mil pessoas sairam à rua, em Telavive, para exigir a paz. Saudemos as palavras de ordem: "Abandonem os territórios!", Salvem o país!", "Acordo de Genebra é igual a uma nova esperança!". Vale a pena ler o PÚBLICO de hoje ( páginas 2 a 5 ) para conhecer melhor este problema que parece infindável e tem trazido a morte aos povos de Israel e da Palestina. O "muro da vergonha" que os falcões de Israel têm construído, aprisionando os palestinianos, continua a envergonhar toda a Humanidade. Como é possível, senhor Sharon ? E, mais, como é possível que as televisões americanas só mostrem os atentados suicidas palestinianos e esqueçam os crimes dos israelitas, plenos de morte, destruição e deslocações forçadas ?

Giulia Lanciani

Na quinta-feira passada, fui à sessão de lançamento do livro "Criação e Crítica" ( Caminho, 2003), de homenagem à tradutora e estudiosa da literatura portuguesa Giulia Lanciani. doutorada 'honoris causa' pela Universidade Nova de Lisboa. O livro tem textos de oito poetas e oito ensaístas, portugueses e brasileiros. Pedro Tamen, Teresa Rita Lopes e Nuno Júdice leram os seus poemas. A alegria atravessou a Sala Veneza, no Hotel Roma. A ponte para Itália ficou mais breve. Ficaria mais ainda se o Antonio Tabucchi estivesse presente. Uma festa.

Aposta

Não costumo jogar nem no totoloto mas apostei mil euros com um portista! Assunto? O texto anterior sobre o Deco.A aposta ? Se alguém comentasse o texto, com espírito pooooorrrrtista. Ganhei a aposta. Obrigado, Sara!

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