29.5.06

SEIS ALARMES




Há dezenas de notícias que apetece deslocar para este espaço de conhecimento crítico.Leio a imprensa nacional e há mais reformas previstas para acabar com o estado social ou, como diz o outro, 32 anos depois do 25 de Abril de 1974, governados por socialistas e social-democratas dá nisto: o país da UE com maior diferença entre ricos e pobres. Leio o El País e "Bush y Blair reconocem errores en Irak, pero defiendem la guerra" e "Solana dice que Europa pagará las consecuencias de Abu Graib"... CARAMBA!
Mas cai-me uma revista na mão e abana-me a cabeça com seis números e seis fotografias de fazer chorar as pedras que persistimos em transportar no coração:

1. 20 mil pessoas morrem de fome por dia;
2. 2 biliões (1 em 3)não sabem ler nem escrever ou efectuar operações aritméticas simples;
3. 42 milhões de pessoas são seropositivas e milhões têm tuberculose, malária e outras doenças infecciosas;
4. Um bilião de pessoas, aproximadamente, sofrem de desnutrição;
5. 4 biliões de pessoas vivem com menos de 1,5 € por dia;
6. Um bilião de pessoas não tem água potável.


Afinal, para onde caminhamos? Onde mora a Fraternidade Universal? Que é feito da Solidariedade Planetária? E a Declaração Universal dos Direitos do Homem até onde tem chegado?
Temos tantas razões para andarmos distraídos, sobretudo agora, no tempo dos grandes eventos desportivos, musicais, mediáticos e noveleiros! Mas paremos um bocadinho só para pensar. Ou talvez mais...

23.5.06

FERNANDO




Fernando Bizarro, podia deixar-te aqui um cravo vermelho. Sei que gostarias. Mas hoje, neste dia em que resolveste deixar de ser visto, mesmo passeando o cão, a dor é imensa e só um lírio poderá transmitir esta mágoa de te perder.
A FRATERNIDADE BLOGUEIRA não te esquecerá e, por ti, também, continuará a festa de comunicar.
No dia 25, quinta-feira, ao meio-dia em ponto, lá estaremos, no Alto de S. João, para te saudar, como ontem: "Olá, Fernando! Obrigado por tudo."

21.5.06

GODOT




Ainda emocionado pela sempre bela peça "A ESPERA DE GODOT", de Samuel Beckett (1906-1989), Prémio Nobel da Literatura, em 1969, até amanhã no Pequeno Auditório do CCB, resta uma festa para os actores do TEATRO MERIDIONAL: João Pedro Vaz (Vladimir),Miguel Seabra (Estragon), Pedro Gil (Lucky), António Fonseca (Pozzo) e o pequeno Luís Martinho (Criança).
Vale mesmo a pena.

POZZO: Pensavam que eu era o Godot.
ESTRAGON: Não senhor, nunca nos passou pela cabeça.
POZZO: Quem é que ele é?
VLADIMIR: Bom, é um... é uma espécie de conhecido.
ESTRAGON: Não é nada, mal o conhecemos.
VLADIMIR: Claro... não o conhecemos lá muito bem... mas de qualquer das formas...
ESTRAGON: Eu se o visse nem sequer o reconhecia.


O texto de "À ESPERA DE GODOT" está publicado nas Edições Cotovia.

FRIDA KAHLO



"A Coluna Partida" (1944)
Fechou hoje ao público a Exposição de FRIDA KAHLO (1907-1954) que, desde 24 de Fevereiro, esteve exposta no Centro Cultural de Belém (CCB). Foram muitos dias de prazer para mais de 70 mil pessoas.
Como despedida, embrulhado numa visita guiada de mais de vinte pessoas, fui ver. Ou sentir, como Frida queria. Misturando tintas e dores.

Do texto:
"Depois da Tate Modern, de Londres, e da Fundación Caixa Galicia, em Santiago de Compostela, é a vez de Lisboa receber a maior e mais completa exposição sobre Frida Kahlo realizada nas últimas décadas, com obras provenientes do Museu Dolores Olmedo, no México a colecção mais importante que existe no mundo sobre a genial artista mexicana.
Entre 1926, quando pintou o seu primeiro auto-retrato, e a sua morte em 1954, Kahlo produziu cerca de 200 imagens. A sua relação com o muralista Diego Rivera, com quem casou, constituiu o lançamento inicial da sua carreira, que no entanto se consolida pela sua força e qualidade.

Numa época de grande ebulição, em todos os sentidos, as importantes mudanças sociais e culturais não deixam de influir na vida e obra de Kahlo, que fez da sua vivência pessoal o tema principal dos seus quadros.

Amante da cultura mexicana, em especial do mundo Azteca, esta artista autodidacta, descreveu o seu drama pessoal de forma muito crítica, através da figuração e da côr que utilizou de forma vibrante. Os seus quadros reflectiam o momento pelo qual passava e, apesar de muito "intensos", não eram Surrealistas como frequentemente foram designados - "Pensaram que eu era Surrealista, mas nunca fui. Nunca pintei sonhos, só pintei a minha própria realidade.
Aos 16 anos, quando seguia para a escola num autocarro, sofreu um acidente de viação que a forçou a ficar acamada durante muito tempo, mas essa situação infeliz proporcionou as condições para começar a pintar.

Devido ao grave acidente sofrido, a artista passou grande parte da sua vida imobilizada, foi alvo de diversas operações, não conseguiu ter filhos, como muito desejou, e padeceu sempre de dores fortes.

Este sofrimento é expresso em quadros como "A Coluna Partida" (1944), "O Camião" (1929), "Unos Quantos Piquetitos" (1935), "Hospital Henry Ford" (1932) e "Auto-Retrato com Macaco" (1945)."

9.5.06

DIA DA EUROPA




Um VIVA para todos os países da Europa, para além dos 25 da UE!

5.5.06

ÂNFORA PERFEITA




1.

A partir de um ponto de barro, arredonda-se o mundo:
primeiro, tão em baixo que as mãos humedecem;
depois, há uma forma que surpreende o ar e a roda.

O oleiro desaparece no movimento da terra e da água:
pela espiral que traz o assombro, abre-se um lugar negro;
visto de fora, é o centro onde acontece a nascente.

Bates as mãos na mesa e afastas as formas informes.
Quando sopras, acontecem coisas fugazes: - uma mancha
ou uma linha oblíqua a perturbar a construção da argila.

Por saberes o tratado dos sonhos, abriste a porta ao sol nascente:
- é uma abundância vermelha de romã que pode aquecer a casa
e dá-la a outros ângulos desprevenidos, ao canto negro da mina.

- É assim que aproximas os vegetais e ligas a raiz e a terra.
Os perfumes coroam a argila e aparece a ânfora perfeita:
para lá de todas as vagas, tem o poder profundo de durar.


(inédito)

3.5.06

ALMIRANTE REIS

Foto FM
Lá está a Bandeira, pintada na cal gasta de uma parede que já ouviu conspirações e mil anseios. É no Centro Republicano Almirante Reis, na Rua do Benformoso, à Mouraria.
Da Avenida Almirante Reis muitos terão ouvido falar. Do Carlos Cândido dos Reis, que lhe deu o nome, talvez menos.Aqui fica uma síntese:

"Oficial da Marinha,reformou-se em 1909, como vice-almirante. Republicano convicto,carbonário e maçon, esteve na primeira linha da preparação do 5 de Outubro de 1910. Esteve na revolta falhada de 28 de Janeiro de 1908 contra a monarquia e, no dia 4 de Outubro de 1910, informado de que a Revolução iria falhar e já não veria um Portugal republicano, suicidou-se."

Da Rua do Benformoso, restam outras memórias, como a da iniciação na Carbonária Portuguesa do "herói da Rotunda", Machado Santos, também carbonário e maçon:
«Voltando no navio a Lisboa, em Junho, o primeiro camarada a quem procuro é Luz de Almeida.(…)
Numa noite, conduz-me à Rua do Benformoso, depois de me obrigar a dar várias voltas, conseguindo perceber que no caminho trocava sinais, quase imperceptíveis, com vários indivíduos estrategicamente postados. Depois de me demorar uma boa meia hora, numa casa de espera, conduz-me, vendado, à sala onde se ia proceder à minha iniciação; ali se consumou o acto, parece que a contento de todos os mascarados.
Terminada a cerimónia, fui evasivamente abraçado por todos os presentes, sendo grande o meu desapontamento por não ficar conhecendo nenhum.»

Luz de Almeida, a que Machado Santos se refere, era o grão-mestre da Carbonária Portuguesa ('Venda Jovem Portugal')e Venerável da loja maçónica Montanha.

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