29.12.06

CARTA




Agora que 2006 está a findar, recordei alguns momentos e ficou-me, por exemplo. esta carta que escrevi a um amigo, em data incerta.
Para memória futura, aqui a transcrevo:
"Estive para te escrever ontem mas deixei arrefecer um pouco a minha fundada revolta e eis-me agora aqui a querer dizer-te alguma coisa que nem sei bem o que é mas que passa por uma solidariedade profunda para contigo e para com todos os colegas na mesma situação.
Muita coisa me dói neste país. A luta por uma sociedade mais justa e responsável sempre me norteou mas, nos tempos que correm, sinto-me atropelado no meio da estrada, à espera que outros carros passem e que os risos dos torturadores me obriguem a fechar os ouvidos.
Os professores que terão de ir para qualquer escola que não conhecem, depois de tantos anos de sacrifício e de serviço ( como os colegas que bem conheces e que têm mais de trinta anos de serviço!), são os exilados, os novos exilados do século XXI. A dignidade humana e o respeito por quem durante tantos anos se dedicou a uma causa que, agora, parece perdida, vão para o caixote do lixo. E são professores do Quadro de Nomeação Definitiva, depois de tantos anos de trouxas às costas percorrendo este país que, depois de décadas, os chicoteia.
Que dizer mais? Só o silêncio e a lembrança desgarrada daquele verso da galega Rosália de Castro: "Este parte, aquele parte e todos, todos se vão". Mas há mais. Infelizmente, há mais. Vejamos o caso da M.G. e do seu trabalho de anos na 'Horta Pedagógica' e no 'Clube do Ambiente'. Fica a meio uma das maravilhas do espaço-escola, capaz de colocar uma flor no ambiente degradado de adolescentes carenciados e carentes, últimos filhos de um deus menor.
Como vês, a ferida aprofunda-se. É que falamos de destruição pedagógica e não só de atropelos da dignidade humana!
Solidário contigo e com todos os colegas injustiçados, eis-me prostrado, quase pronto a desistir de uma democracia que quero justa e fraterna mas que vejo manchada por uma partidarite mentirosa e indigna que, apesar da crise, continua a comprar grandes carrões com o erário público e a dar emprego aos militantes bajuladores e incompetentes. Se o anterior governo quase me enlouqueceu de revolta, este deixa-me paralítico e frustrado porque, ingenuamente, me alegrei com a sua vitória.
Um dia seremos ouvidos, embora talvez só quando o país bater bem no fundo do fundo e estiver vinte vezes abaixo de qualquer país europeu, em termos de educação e de cidadania. Até lá, aquele abraço!"

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