29.12.03

Vila Franca da Beira

Ontem, a ceia, em Seia. O calor da lareira e o prolongado silêncio dos interiores da terra. E a Sofia e o Alberto. E a Rita e o Miguel. E a Mafalda e o Ângelo. E hoje a neve, o vento frio, a chuva, a impossibilidade de viajar no branco. E o caminho para Canas, um almoço de honra no Zé Pataco. Depois, outros caminhos e Vila Franca da Beira, quase uma Região Autónoma neste longe do mar. E o calor da casa e dos afectos: a Diane, o Filipe e as três princesas. E o brilho da chuva contra os candeeiros. Ou esta música de nunca ser tarde.

26.12.03

Imagem

Procuro, apenas, uma imagem. Há horas.




A Dança das Passagens

Parecia assim: dois golfinhos tocando o céu, quase azul contra azul, quase passando para um outro lado. Depois, caíam ou regressavam. E saltavam, de novo, contra o azul. Re petiam gestos, posturas, mudando, apenas, o brilho da pele, mais luminoso, mais cinzento, mais azul. Assim, as passagens: agora, um solstício de Inverno; mais logo, um equinócio da Primavera; depois, um solstício de Verão; finalmente, o fecho de mais um ciclo com mais um equinócio de Outono. A repetição ou as águas do mesmo rio de Heraclito.
Mesmo assim, a diferença: os golfinhos fogem para o mar, vagueiam, procuram comida, procriam, têm filhos. E dançam. E cantam. E comunicam. E talvez amem, como nós. Ou talvez chorem por não ouvirem orquestras nem poderem escrever poemas para a eternidade.

23.12.03







há uma alma sincera, uma situação proteiforme
chega um homem, um archote-céu
e a pá de cabeças!
a pá de cabeças!
arre, a pá de cabeças!


Há!


(in Herberto Helder, Doze Nós numa Corda, LX, Assírio & Alvim, 1997, p. 109)

22.12.03

NATAL 2003



Ao pé deste arbusto em extinção, entre montanhas e mar, toco a casa da infância, o lugar grande da cozinha aberta, com o pensamento colado a TODOS, desejando TUDO e o MELHOR! Mesmo no caminho dos impossíveis, fica uma folha de azevinho, para nos ligar neste Natal de 2003!

19.12.03

Debate

O Parlamento como um teatro. Choro com a hipocrisia. E vi dois deputados do PP, mais parvos do que dois rinocerontes, a subirem as Escadinhas do Duque, em direcção ao Bairro Alto. Eram oito horas da noite e não chovia. Tinham trinta anos e estavam doentes.

Mais

O poema é um animal;
Nenhum poema se destina ao leitor;

(in. HH. Cobra, Lisboa, & etc, 1977, p. 9)

Inìcio

Tocou o telefone e soube que iam matá-la.
( primeira frase de " Arturo Pérez-Reverte, A Rainha do Sul, Porto, Asa, 2003, p.9)

IVG

Claro que sei o que é. Vamos ao mais longe do longe: apenas Interrupção Voluntária da Gravidez. Mesmo que eu carregue muito nas teclas ou nos caracteres, a hipocrisia nacional salta sobre as casas. É uma doença nacional. Nós só queremos dignidade e IGUALDADE. Ou vamos a Londres, a Maiorca ou Badajoz. Choramos sobre as mulheres que sofrem ou que perderam parte do subsídio de doença porque vão tratar dos filhod doentes! Assim, choramos.

Eis como que uma Coisa

Traz cabeças faz um monte.

18.12.03

Cobra

E então vinha a baforada do estio como se abrissem uma porta
defronte do ar redondo. Também se enredava o outono
nos pulmões das casas. E guardava-se o veneno
nas arcas, a roupa onde
se trava o brilho. O inverno fazia
um remoinho nas câmaras, seus buracos expulsavam nebulosas
para as ininterruptas passagens
cinematográficas.
Um dia a primavera era cruel
como um coral de pérolas.


(Herberto Helder, in Cobra, Lisboa, & etc, 1977, p. 25)

17.12.03

ONU

Está de parabéns o Secretário-Geral das Nações Unidas ao avisar que a ONU é contra a pena de morte e que nenhum tribunal por ela apoiado a poderá declarar. É bom que se saiba que é assim que a Humanidade avança e que para trás vão ficando crimes que nos envergonham. É bom lembrar, também, que o art.º 13.º da Terceira Convenção de Genebra estipula que "os prisioneiros (de guerra) devem ter protecção permanente, particularmente contra actos de violência e intimidação e contra insultos e curiosidade pública." A exposição de Saddam Hussein, de boca aberta, infringe claramente este artigo. O Comité Internacional da Cruz Vermelha, guardião das convenções, deveria estar mais atento aos outros e não só aos americanos. Mesmo que Saddam seja um criminoso, responsável por milhares de mortes e atrocidades. A propósito, o Irão está a preparar uma queixa contra Saddam pela invasão do seu país, em 1990, e que causou cerca de um milhão de mortos. Os EUA são incluídos nesta queixa. Vamos ver se não vai prescrever.

16.12.03

Como ontem me senti terrivelmente esquerdista e politicamente incorrecto, venho hoje salvar um excerto do Herberto Helder, em Os Passos em Volta: "Doutor, estou doente. Sei coisas terríveis sobre o mundo". E, como tratamento para tanta moléstia, vou deixar de ver noticiários televisivos e dormir, pelo menos, oito horas por dia para acabar com os pesadelos sobre o saque do Iraque (claro que rima!), sobre a cara do Bush e de mais dez bestas e sobre todos os condenados à morte.

15.12.03

Décima Reacção

Há qualquer coisa que me assusta neste espectáculo em torno da prisão de Saddam. Não acredito nos risos parvos dos iraquianos de braços no ar ( lembram-me os dinheiros da CIA para os bombistas do pós-25 de Abril ) e vejo tudo como um teatro de fantoches que, em vez de algodão, linho ou lã, são feitos de plástico, como o peru. Cheira-me a dólares putrefactos, manchados de sangue. Será que estou doente, doutor ? Sei coisas terríveis sobre a vida (in, HH).

Pena de Morte

Ouvir falar de pena de morte, repetidamente, a propósito de Saddam Hussein, arrepia qualquer cidadão minimamente lúcido deste Planeta. Por que ela nos envergonha. Porque é um sinal de cobardia e não de força. Porque a Justiça sem pena de morte nos distingue da barbárie. Porque, num estado de Direito, não há nunca qualquer razão que justifique a morte provocada de qualquer ser humano. A nossa força está na Justiça e esta prescinde do poder de matar. Infelizmente, há muitos países no mundo que estão, ainda, num estádio de ódio e vingança e não encontraram alternativas para o acto fácil e barato de matar alguém. Alguns estados dos EUA envergonham-nos. A China, onde a família paga a bala da morte, envergonha-nos. Como outras ditaduras, em outros covis do mundo.

14.12.03

PARA ESTA NOITE

Apetece -me adormecer à sombra da própria noite. Desenrolá-la pelas horas, com um sonho atravessado por luzes e caminhos. Esquecer os mortos e os presos, os mendigos e os esfomeados. Ficar aqui, nesta ataraxia temperada pelo silêncio. Esquecer todos os filmes e debates. Deixar a música na ilha mais desencontrada. Adormecer sem nada encostado ao coração.

SADDAM

Ainda duvido do nome, da dupla consoante, da repetição das vogais. Espero que a palavra saia sem erros, aberta como as vogais. E, depois, regresso à notícia, conhecida tarde, à saída de Soure, perto de um centro do continente. Espero pelas imagens da noite, modulando o tempo. E chegam: frias, com um homem de boca aberta, desrespeitado, à margem da "concepção dos direitos humanos", como assinala Pacheco Pereira. A degradação leva-me a Guantánamo, à vergonha do tratamento a presos. E não vale a pena falar no Saddam criminoso ou assassino do seu próprio povo. O que nos distingue da opressão é, precisamente, o caminho da Liberdade. Os criminosos devem ser julgados, sempre, mas longe da degradação humana. A diferença é simples: nunca fazermos o mesmo. Nem por vingança. Nem por imitação.
O Partido Democrata americano, em nome do populismo, cai no ridículo e renega a sua história, ao defender a pena de morte para Saddam. Fê-lo Joe Libermann (reparem no nome de homem livre ou de Liberdade atraiçoada) e a História anda para trás. Aguardemos Montréal2004 e o 2.º Congresso Mundial contra a Pena de Morte (de 5 a 9 de Outubro de 2004)!

13.12.03

VENTO

Acordo sem vento, sem chuva, encostado ao canto obscuro do fim do Outono. A manhã padece de calma. A luz retarda-se, para lá de nuvens e matinais nevoeiros. Poderia ser assim a vida: um barco sem agitação, tocado pelo sopro dos animais das margens, acordado por um golfinho, adormecido pela fada-rainha que obscurece o dia, a palavra, a sombra de ninguém..

12.12.03

VEM, NOITE

Vem, Noite antiquíssima e idêntica,
Noite Rainha nascida destronada,
Noite igual por dentro ao silêncio, Noite
Com as estrelas lantejoulas rápidas
No teu vestido franjado de Infinito.

Vem, vagamente,
Vem, levemente,
Vem, sozinha, solene, com as mãos caídas
Ao teu lado, vem
E traz os montes longínquos para ao pé das árvores próximas,
Funde num campo teu todos os campos que vejo,
Faz da montanha um bloco só do teu corpo,
Apaga-lhe todas as diferenças que de longe vejo de dia,
Todas as estradas que a sobem,
Todas as várias árvores que a fazem verde-escuro ao longe,
Todas as casas brancas e com fumo entre as árvores,
E deixa só uma luz e outra luz e mais outra,
Na distância imprecisa e vagamente perturbadora,
Na distância subitamente impossível de percorrer.

(...)

Álvaro de Campos



SOLSTÍCIO

Com um dia tão claro, varrido por este sol de Inverno, vale a pena parar no círculo das passagens e preparar o solstício de Inverno, com dez dias de antecedência: momento para o número 10 e para a "tetraktis" pitagórica:
.
. .
. . .
. . . .


Era este o "número perfeito" dos pitagóricos ( 1+2+3+4=10) e o triângulo tinha 4 pontos em cada lado (daí o nome "tetraktis" e sobre este triângulo juravam os neófitos, quando eram iniciados na Escola Pitagórica, colocando a mão sobre o triângulo: "Sobre este triângulo, fonte e origem de todas as coisas...".
E, com o solstício, abrir-se-á a noite, alargar-se-ão os dias.

11.12.03

António Bronze

De Moçambique para Ferragudo, com as artes a tiracolo, fica a memória de António Bronze, falecido no último fim-de-semana. Ceramista e pintor, deixa-nos tocados pela simplicidade permanente, pelo ar simplicíssimo, pela voz cava, sempre baixa, como quem não sabia o que era o ruído. Da visita a sua casa, no último Verão, vendo o que tinha entre mãos, as suas obras acabadas e inacabadas, fica um espaço ferido. E da marginal de Ferragudo, fica-nos o jantar ao pôr-do-sol, o peixe grelhado pelo empregado ucraniano, o sorriso maroto. Não sabendo que era a última vez, depois de tantos anos com incertos encontros. Mas é assim a vida. E também tu, Bronze, deixaste de ser visto. Apenas.

10.12.03

Natália Correia

Vale a pena ouvir o recente disco da Natália Correia, com poemas ditos por ela ou cantados por outros. E pegar nesta estrofe de A Defesa do Poeta, que dá título a essa rósea maravilha:

Senhores jurados sou um poeta
um multipétalo uivo um defeito
e ando com uma camisa de vento
ao contrário do esqueleto

9.12.03

ROSA

Nos silenciosos vales do Norte
nascem as inesperadas rosas do amor,
com as suas pétalas mágicas,
e às vezes,
ternos espinhos no coração de um homem,
na sua eterna solidão.
São rosas do sol e das chuvas,
iluminando a noite desse homem,
a sua respiração,
as suas mãos que estremecem à volta da
flor.
E elas vão e vêm, caladas,
repartindo a ternura e a cor,
a oculta ternura,
a discreta cor no coração do homem,
na sua eterna solidão.

( José Agostinho Baptista, Anjos Caídos,
Lisboa, Assírio & Alvim, 2003, p.40 )

Tempo

As palavras mais ouvidas durante o dia: tempo, chuva, vento, frio. É a função fáctica da linguagem ou a palavra como fio para chegar ao outro, à conversa possível, para poder atravessar o ruído assobiador que chega à janela. Ficamos aqui, no calor brando da casa, com um poema de Montale na boca.

O Muro

É, de facto, um muro da vergonha. E dói como uma lâmina emcostada ao coração. É o muro que Israel está a construir entre o seu território e a Cisjordânia. Felizmente, a Assembleia Geral das Nações Unidas pediu ao Tribunal Internacional de Justiça, com sede em Haia, para analisar a legalidade de tal construção. O modo como Israel lida com os palestinianos envergonha-os claramente. Envergonha-nos a todos, afinal.
Como se a História nada nos ensinasse. E continuássemos a caminhar para o abismo.

Beja

A cidade à chuva. O Alentejo à chuva. Portugal à chuva. O regresso de Beja ao fim do dia: o céu com luminosos fiapos de nuvens, as silhuetas negras dos sobreiros e pinheiros, sempre à direita; os campos recém-lavrados, os primeiros verdes rompendo as planícies. Para trás, fica um povoado branco, uma igreja, uma pousada, um lugar grande de água e rãs, gaivotas e garças carraceiras, ao pé de Beringel. É pequeno o mundo para a possível serenidade.

6.12.03

Maria Lamas

Ainda hoje a força desta mulher me comove: as prisões, o exílio, a capacidade pedagógica e aquela coisa linda que é dar-nos a ler as Memórias de Adriano, de Margueritte Yourcenar, em tradução sua. Dessa obra-prima nunca nos libertaremos, tanta a beleza (dos corpos, do mundo, dos pensamentos). Cada página comove o sangue. E da amizade com M. Yourcenar, nesse Paris de exílio para milhares de portugueses, ficou a maravilha. E há o combate contra o fascismo e a luta pela igualdade de direitos. Mas, deixou-nos há vinte anos, em 6 de Dezembro de 1983. Tinha nascido em Torres Novas, em 6 de Outubro (o mesmo dia da minha mãe) do ano distante de 1893.
Ainda dela, duas memórias pessoais: um estágio na Escola Maria Lamas, no Porto, e um Prémio Maria Lamas, da Câmara de Torres Novas. Como um nome que nos segue. Como alguém que não morreu mas, apenas, deixou de ser visto.

À Espera

A noite atravessada de chuva e gelo: longa a noite que atravessa a chuva, suspenso o gelo que atravessa a noite. E ninguém sabe que estás à minha espera,
enrolada num edredão de penugem, coroada de recortes de jornais e revistas, com a memória tocada por uma flor de sal.


5.12.03

Aniversários

O umbiguismo também cá mora, sim, senhor, e não é só para o Paulo Querido. Hoje, com um frio de rachar ossos e congelar sangue, também são aniversariantes figuras conhecidas como o cantautor Fausto Bordalo Dias, o tenor José Carreras, o Prémio Nobel da Física, Sheldon Lee Glasgow. Só o Presidente de Israel Moshe Katsav, que hoje faz 58 anos, não parece sagitário, tanta é a responsabilidade na opressão do povo palestiniano. E dos mortos, vá lá, recordemos o Walt Disney, nascido em Chicago em 1901, treze dias antes do Vitorino Nemésio! Daqueles de que o PÚBLICO costuma falar (jogadores, apresentadores de tv, locutores de rádio, manequins, costureiros, pimbalhada, etc.) não vale a pena falar aqui, tão pequeno é este umbigo, após a colocação deste "peircing" bloguista. Mesmo assim, saúde, para TODOS os que respiram comigo o FOGO do coração!


FAUSTO

Estamos hoje de parabéns, como sabes. Este 5 de Dezembro deu-nos à luz, em anos diferentes, mas com Sagitário por cima. Depois, foram muitas horas, muitos almoços, muitas cumplicidades. E o teu temperamento difícil. E o teu cansaço de uma imagem presa ao "Por este Rio acima", a que tu respondias que o "Crónicas da Terra Ardente" era muito melhor! E, agora, esta "Ópera Mágica do Cantor Maldito" que é só para ouvir, pensar e sentir, e não para ter etiquetas. De qualidade, sabes tu; de "música popular portuguesa" sabem outros. Um abraço entre Trancoso e Guimarães, meu poeta!

Espinosa

Escrevi, há dias, sobre a obra de António Damásio, Ao Encontro de Espinosa, as Emoções Sociais e a Neurologia do Sentir (PEA, 2003). Claro que apetece regressar ao filósofo, filho de pai da Vidigueira, e ficar triste porque a sua obra, em português, está profundamente esquecida. A Ética não se encontra (há a edição velhinha , de MCMLX), em três volumes, da Atlântida, de Coimbra, com tradução introdução e notas de Joaquim de Carvalho. As outras obras rareiam. Mas há um óptimo livro, entre outros, sobre Bento de Espinosa, na Imprensa Nacional - Casa da Moeda: Espinosa e Outros Hereges, de Yirmiahu Yovel (1993). E, já agora, sobre judeus, há um espantoso "La Communauté Juive de Bayonne au XIXe Siècle", de Anne Bénard-Oukhemanou (Atlantica, 2001), em que a diáspora portuguesa está sempre presente. É que os fugidos à Inquisição não conheciam, apenas, o caminho de Amsterdão. como muitos pensam. Não é assim, Pierre Mendès-France, tu que, pouco tempo antes da morte, vieste a Portugal e disseste: "Je viens revoir le pays de mes ancêtres!"

4.12.03

António Poppe

Valeu a pena a entrevista de ontem no Sic Mulher.O entrevistado António Poppe trouxe poesia, muita poesia e, sobretudo, Herberto Helder. A Laurinda Alves também merece cinco estrelas. A noite foi mais leve. Levíssima. Quase pluma sobre as cabeças furiosas.

Alberto João

Escrever sobre números parece-me uma terrível seca mas, ao ler nos jornais de hoje, que o Alberto João cravou mais 35 milhões de euros à Manuela Ferreira Leite dói-me o coração. Não por saber que ele nunca os irá pagar mas nós, os pobres contribuintes; não pela distinção entre o continente e a insularidade madeirense. Simplesmente, porque a nossa interioridade se miserabiliza, se despovoa, arde de solidão, enquanto os nababos se riem. Por raiva, apetecia-me escrever nos maços de tabaco: "Prefiro morrer a fumar do que dormir com o Alberto João", como vi no Funchal, ainda há dias.

3.12.03

Dezembro

É um mês de pensamentos mais quentes, mais líquidos, mais doces. Por exemplo:

a efemeridade, o voo da seta de Sagitário, o calor dos recantos da infância,
o cheiro das pinhas, o aroma da canela, a ascensão do fumo nas encostas,
o forno grande da casa dos avós.

A. Damásio

O livro da António Damásio, Ao Encontro de Espinosa, traz-nos um mundo de percepção dos afectos que demora a compreender. Assim, tenho o livro acordado nas margens dos outros livros, sempre ao meu lado, à espera do momento para mais uma ou duas páginas. É que a beleza merece uma digestão demorada.
Sobre ele, vale a pena ler a crónica da Clara Ferreira Alves, no último Expresso. A análise crítica e o espírito sintético de CFA atingem o esplendor. E é bela a frase: "O Deus de Espinosa não era judeu nem cristão. O Deus de Espinosa estava em toda a parte, dentro de cada partícula do universo, sem p+rincípio nem fim, não respondia a preces nem a lamentações."

2.12.03

Poesia

Morro por um verso. Até outro momento do amanhã!

Regaleira

Mais uma visita à Quinta da Regaleira, mais uma inspiração de outros tempos, com ressonâncias maçónicas e templárias. A descida (ou subida?) ao poço iniciático é sempre um momento de emoção contida. Subimos ao centro da Terra, em demanda da Luz. O Vitríolo dos alquimistas reaparece, como um verso novo: "Visita o interior da terra e, rectificando, encontrarás a pedra oculta". Este é um lado do conhecimento do mundo, branco e negro, sempre a caminho, sabendo que o caminho se faz caminhando.

Antibióticos

O mês começou com o Dia Mundial da SIDA e um concerto memorável na África do Sul, apadrinhado por Mandela e o número da cela onde passou muitos anos da sua vida: 46664. É este o número, também, de uma conta de apoio à luta contra a doença. Em Portugal, ficamos a saber que a tuberculose e a SIDA têm atacado as comunidades imigrantes, sobretudo. Ficamos, ainda, a saber que, segundo o Eurobarómetro, Portugal é o terceiro consumidor de antibióticos (44% da população), depois da Espanha e da França (45% da população)
Dá pena é saber que esses antibióticos não são usados contra os "senhores da guerra" ou contra os "catitinhas", vestidos à vendedor de automóvel, que, nos poderes mediáticos, defendem, ainda, a guerra, só por terem vergonha de reconhecer que se enganaram.

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