24.4.06

25 de ABRIL




Há 32 anos, Portugal esta prestes a libertar-se de uma ditadura fascista, católica e pacóvia.
Estamos, ainda, em festa.
Amanhã, às 15 Horas, inicia-se a Manif comemorativa, entre o Marquês de Pombal e o Rossio (para só falar da de Lisboa).
É para TODOS!




ABRIL DE ABRIL

Era um Abril de amigo Abril de trigo
Abril de trevo e trégua e vinho e húmus
Abril de novos ritmos novos rumos.

Era um Abril comigo Abril contigo
ainda só ardor e sem ardil.
Abril sem adjectivo Abril de Abril.

Era um Abril na praça Abril de massas
era um Abril na rua Abril a rodos
Abril de sol que nasce para todos.

Abril de vinho e sonho em nossas taças
era um Abril de clava Abril em acto
em mil novecentos e setenta e quatro.

Era um Abril viril Abril tão bravo
Abril de boca a abrir-se Abril palavra
esse Abril em que Abril se libertava.

Era um Abril de clava Abril de cravo
Abril de mão na mão e sem fantasmas
esse Abril em que Abril floriu nas armas.


Manuel Alegre
in “30 Anos de Poesia”

25 DE ABRIL

Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo.



Sophia de Mello Breyner Andresen
in “ Obra Poética II”

LIBERDADE

O poema é
A liberdade

Um poema não se programa
Porém a disciplina
- Sílaba por sílaba -
O acompanha

Sílaba por sílaba
O poema emerge
- Como se os deuses o dessem
O fazemos


Sophia de Mello Breyner Andresen
in “Obra Poética II”

A LIBERDADE DE PARIS

Liberdade de me sentar
à flor do passeio

liberdade de estar
à janela do asfalto
e debruçar-me e ver
o rosto da cidade
nos pés que vêm e vão

- a liberdade de estar
a liberdade do chão

liberdade de atirar
pontas de medo e raiva
ao monte de folhas mortas
às portas da madrugada

- a liberdade de esquecer
a liberdade do chão

liberdade de plantar
um verso na pedra rasa
e vê-lo crescer aberto
ao ritmo dos passos livres

- a liberdade de cantar
à flor do chão


Luís Veiga Leitão
in “Longo Caminho Breve”



23.4.06

DIA DO LIVRO




O LIVRO
Coisa móvel, matéria do mundo, o livro
fixa-se à terra. Respira areias vivas.

O pó das longas erosões passa-lhe por cima.
Mesmo feito água ou fogo ou feito cinza
toca a casa do mundo, a gruta dos segredos.

Aromas impregnam
este lugar de vigília.


Firmino Mendes, "Um Segredo guarda o Mundo"

20.4.06

95 ANOS




Faz hoje 95 anos que foi promulgada a Lei de Separação entre o Estado e a Igreja. Os bens da igreja foram nacionalizados e o culto supervisionado. O Vaticano cortou relações com Portugal devido a esta Lei. Era o dia 20 de Abril de 1911.
Hoje, neste 20 de Abril de 2006, seria melhor podermos dizer que foram mesmo 95 anos de separação Igreja e Estado e que a laicidade é um valor interiorizado pela sociedade portuguesa. Infelizmente, tivemos um longo interregno com o Estado Novo e a promiscuidade consequente; mais ainda, a Constituição da República de 1976, apesar de laica, continua a não ser cumprida e a promiscuidade entre o Estado e a Igreja Católica tem-se mantido, não só nas escolas e no ensino da Religião e Moral Católicas (claro!) mas nos actos oficiais do Estado.
Um défice democrático.

PENA DE MORTE

A AMNISTIA INTERNACIONAL (AI) revelou alguns dados sobre a pena de morte, em 2005:



"O país com maior número de penas de morte foi a China, com 1770, contra as 3400 apuradas em 2004. A AI calcula, contudo, que o número real de execuções no gigante asiático, em 2005, poderá aproximar-se das 8 mil.

Além da China, outros 21 países aplicaram penas de morte em 2005, como o Irão e Arábia Saudita, onde se registaram pelo menos 94 e 86 execuções, respectivamente, enquanto nos EUA foram executados 60 condenados, mais um do que no ano anterior.

Os restantes países onde se realizaram execuções em 2005 foram o Bangladesh, Bielorrússia, Indonésia, Iraque, Japão, Jordânia, Coreia do Norte, Kuwait, Líbia, Mongólia, Paquistão, Singapura, Somália, Taiwan, Uzbequistão, Vietname e Iémen, além da Autoridade Nacional Palestiniana.

O número de condenados à morte e que aguardam execução oscila entre as 19474 e as 24546. Esta pena foi abolida em 2005 no México e na Libéria, sendo agora 122 os países que adoptaram essa medida.

Setenta e quatro países continuam a prever a pena de morte para delitos comuns, como Cuba, Guatemala e EUA."


A PENA DE MORTE é INFAME e COBARDE. UMA VERGONHA PARA TODA A HUMANIDADE.

17.4.06

HOJE



Estava assim o dia de hoje na Praia da Torre, ali pegadinha ao Forte de São Julião da Barra.
Foi tempo para lembrar o dia 18 de Outubro de 1817, quando o general Gomes Freire de Andrade ali foi enforcado e, depois, queimado, a mando do general inglês Beresford. As cinzas foram para o mar.
Desse dia outonal resta uma ténue memória: um singelo monumento no local, agora no lado Norte da estrada Marginal, quase à sombra de quatro palmeiras. Estendi o olhar, na passagem, e rememorei todos os inocentes assassinados que preenchem a História. E pensei nos quatro mil judeus que, há 500 anos (fá-los-á depois de amanhã), foram massacrados nas ruas de Lisboa por uma ululante multidão católica. E nos milhões de mortos de todas as ditaduras comunistas, nazis, fascistas, militares, teocráticas ou outras.
Vale bem a pena regressar à História, reler os simples "Felizmente há Luar!", de Luís de Sttau Monteiro, ou "Vida e Morte de Gomes Freire de Andrade", de Raul Brandão. E daqui, deste dia centrado em 18 de Outubro de 1817 (foi sempre dia feriado durante a 1.ª República), partir para outros livros e outras viagens.

15.4.06

POEMA




A PRAIA

Desci à praia pelo caminho mais longo
- o que rodeia a figueira antiga e passa
ao lado de cactos e de palmeiras-anãs.
Levanta-se a poeira castanha sob os pés
- dá peso e densidade ao levíssimo ar
nesta manhã de mar exposto ao silêncio.

A maré vaza revela rochas escondidas
- as que estão presas à terra para sempre
à espera da convulsão dos maremotos.
O areal brilha cheio de conchas partidas
- a fragilidade calcária, o efémero durar
do brilho da respiração nos corpos de água.

Os pés descalços tocam a linha líquida
- regressa o frio cósmico, o abandono estelar,
as danças eternas nos abismos das constelações.
O corpo mergulha na dobra da onda mais alta
- a água está demasiado perto para poder brilhar
mas a transparência cobre a pele de luz viva.

Outra vez o ar quente sobre a areia, sobre o mar
- a presença do fogo vigilante fabricando lugares
de expansão, dilatando espaços para a morte.
Alguns animais afloram sobre a falésia calcária
- aproxima-se a noite e tudo se mistura a tudo:
escurece a espuma, integra-se a praia no universo.


in "Um Segredo Guarda o Mundo"

13.4.06

BECKETT




"o maior delito do homem é o de haver nascido".

Faria hoje 100 anos ((1906-1989). Ficam-nos as obras, escritas em francês e inglês, deste irlandês sem raízes, contemporâneo de Joyce e Yeats:
*** ***
"POZZO: Pensavam que eu era o Godot.
ESTRAGON: Não senhor, nunca nos passou pela cabeça.
POZZO: Quem é que ele é?
VLADIMIR: Bom, é um... é uma espécie de conhecido.
ESTRAGON: Não é nada, mal o conhecemos.
VLADIMIR: Claro... não o conhecemos lá muito bem... mas de qualquer das formas...
ESTRAGON: Eu se o visse nem sequer o reconhecia."


Samuel Beckett, À Espera de Godot, Ed. Cotovia

11.4.06

ITÁLIA




A vitória de PRODI é escassa, escassíssima e, afinal, o boçal Berlusconi consegue aproximar-se dos votos dos "coglioni". Uma tristeza para a Itália, para toda a Europa e, mais ainda, para um Planeta que precisa de mais PAZ, mais Justiça social, mais Solidariedade e Tolerância.

6.4.06

FOCAS

A matança cruel das focas, no Canadá, começou há dias. Serão cerca de 300 mil que morrerão com requintes de crueldade.
Clique AQUI para poder ver um vídeo sobre a matança e poder julgar por si.

3.4.06

CONSTITUIÇÃO




A 2 de Abril de 1976, foi aprovada a Constituição da República Portuguesa. Já foi revista sete vezes, por estas ou por aquelas razões. Mas continua a espantar o desrespeito pelo Texto Fundamental da democracia portuguesa, 32 anos depois do 25 de Abril. Como qualquer cidadão, sempre pensei que o Texto era a 'mãe de todas as leis'. Por isso, fico boquiaberto quando leio que a Constituição, HOJE, ainda prevê a "abolição do imperialismo" e a "dissolução dos blocos político-militares" entre os princípios fundamentais do Estado (art.º 7.º). E tem um artigo dedicado às "experiências de autogestão" (art.º 94.º) e outro consagrado à "eliminação dos latifúndios", assegurando a "participação dos trabalhadores na gestão de unidades de produção do sector público" (art.º 89.º).
E sorrimos. Porque é mais a memória de um tempo que quer perdurar do que qualquer outra 'coisa' com eficácia legal. Mas se isto é assim, vazio e memorial, por que permanece na Constituição? Para nos aumentar a frustração, por termos ficado com a festa inacabada?
Neste Portugal em contínua derrapagem ficaria bem um momento de reflexão sobre a explicação das nossas incongruências. Nunca somos cumpridores nem consequentes. Nem na presente Constituição.

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