15.4.06

POEMA




A PRAIA

Desci à praia pelo caminho mais longo
- o que rodeia a figueira antiga e passa
ao lado de cactos e de palmeiras-anãs.
Levanta-se a poeira castanha sob os pés
- dá peso e densidade ao levíssimo ar
nesta manhã de mar exposto ao silêncio.

A maré vaza revela rochas escondidas
- as que estão presas à terra para sempre
à espera da convulsão dos maremotos.
O areal brilha cheio de conchas partidas
- a fragilidade calcária, o efémero durar
do brilho da respiração nos corpos de água.

Os pés descalços tocam a linha líquida
- regressa o frio cósmico, o abandono estelar,
as danças eternas nos abismos das constelações.
O corpo mergulha na dobra da onda mais alta
- a água está demasiado perto para poder brilhar
mas a transparência cobre a pele de luz viva.

Outra vez o ar quente sobre a areia, sobre o mar
- a presença do fogo vigilante fabricando lugares
de expansão, dilatando espaços para a morte.
Alguns animais afloram sobre a falésia calcária
- aproxima-se a noite e tudo se mistura a tudo:
escurece a espuma, integra-se a praia no universo.


in "Um Segredo Guarda o Mundo"

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