17.11.03

Madeira

Vale a pena sobrevoar o Atlântico para tocar algumas árvores raras, desconhecidas, presas na sombra de muitas flores: o mangueiro, a árvore-de-fogo, a estrelícia-gigante, a maravilha, o pinheiro-da-índia, a canforeira. E, entre verdes diversos, cheirar palavras dispersas na inclinação da Ilha. Tocar, assim, a leveza do poema. Como este de São Moniz Gouveia, no seu livro "Lupus in Fabula":

SONO DE MENINO

carregarei teu fardo, as inúmeras perguntas
do realejo que chora, não por ritual ou por acaso,
mas carregarei teu sono como metal precioso
que jaz à espera dentro da terra.
afugentarei os garimpeiros de todas as partes,
vigiarei os cordeiros e as ovelhas como astuto pastor
e seu cão, trilharei veredas e atrás dos arbustos estarei
mãos entrelaçadas em morfeu, e a ti embalarei,
e encantarei.
sussurrarei às camélias que dispam de seus caules
apenas as pétalas, pois é de mais, é de mais o barulho
de pedra da rosa, ou mesmo da folha,
quando cai em seu leito.

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