27.1.04

Para um Amigo



Tenho um amigo, com o Alentejo encostado ao peito, que anda a rondar os caminhos da tristeza. E hoje, ao lado da chuva e do vento, acordei com ele encostado ao coração. Apesar de distante, li-lhe um poema:

Em dias de orvalho, conhece-se a dissolução do ar
e o amor liga-se à terra renovada. Uma cascata
é um oceano vivo. Fragmenta a luz branca e nela
expande-se uma prolongada serenidade. Deixamos
de lado as imitações e a habilidade quotidiana
para amarmos, apenas, a história de um grito.
Vive-se no contacto. E é um ruído incessante
esta solidão dissipada pelo fluir das águas.
Poder-se-á contar em pormenor esse momento?
Iniciarei numa rosa o mais longo caminho.


(in Firmino Mendes, Ilha sobre Ilha, Lisboa, Caminho, 1993, p. 40)




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