21.1.04

Bartolomé de las Casas



Este é o ANO INTERNACIONAL DA COMEMORAÇÃO CONTRA A ESCRAVATURA E DA SUA ABOLIÇÃO. Oficialmente aberto no passado dia 10 de Janeiro, em Cape Coast, lugar sinistro de embarque para milhares de escravos africanos, a 170 km de Acra, capital do Gana, pelo Director-Geral da Unesco, Koichiro Matsuura, este é um ano para estarmos mais atentos à História. E, por exemplo, lermos a Brevíssima Relação da Destruição das Índias (Lisboa, Antígona), de Bartolomé de las Casas. É que o livro mostra-nos o outro lado das atrocidades cometidas no continente americano. O saque e o massacre não atingiu, apenas, os povos africanos.
Bartolomé de las Casas (1474-1566) era um frade, natural de Sevilha, que a si próprio se declarou "defensor e protector de todos os povos indígenas". Da sua obra, citemos estas referências a Francisco Pizarro:

"No ano de mil quinhentos e trinta e três foi outro grão-tirano com certa gente para os reinos do Peru, aonde, entrando com os mesmos títulos e tenção e com os princípios de todos os outros já passados (porque era um dos que mais se haviam exercitado e com mais tempo em todas as crueldades e estragos que na Terra Firme, desde o ano de mil quinhentos e dez, se haviam feito), cresceu em crueldades, matanças e roubos, sem fé nem verdade, destruindo povoados, humilhando e matando as suas gentes, e sendo causa de tão grandes males que naquelas terras sucederam, que asseguramos não haver quem possa referi-los e ponderá-los até claramente os vermos e conhecermos no Dia do Juízo. E dalguns que queria referir, por via da deformidade, qualidades e circunstâncias que os afeiam e agravam, não o poderei nem saberei encarecer.
Na sua desgraçada entrada matou e destruiu alguns povos e roubou-lhes muita quantidade de ouro. (...) a paga que aos índios deram os espanhóis foi passarem a fio de espada e alancearem grande cópia de gente, e daqueles a quem pouparam a vida fizeram escravos, com grandes e assinaladas outras crueldade contra eles praticadas, assim deixando quase despovoada a dita ilha (de Puna).
" (pp.128-129)

Note-se que, em menos de meio século, entre 1519 e 1605, a população do México central terá passado de 25,3 milhões a 1 milhão, segundo o investigador Sánchez Albornoz. A dimensão do genocídio é globalmente mostrada pelos dados do antropólogo brasileiro Darcy Ribeiro, dados estes referentes a todo o continente: em 1492, a população ameríndia seria de 70-80 milhões e, em 1650, de 3,5 milhões.


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