13.6.05
DEIXARAM DE SER VISTOS
Recém-chegado de um país a Sul, reencontro a efemeridade dos dias em três portugueses que se vão: Vasco Gonçalves, Álvaro Cunhal e Eugénio de Andrade. Pessoalmente, só tive o prazer de conhecer o poeta que um dia me convidou para apresentar os meus livros na sua Fundação e casa, na Foz, no Porto. Recordo hoje, com o coração à chuva, essa tarde de sábado do Outono de 2000.
Dos outros, só o tempo da Festa e da Diferença, no depois do 25 de Abril. E o conflito entre a Liberdade e a Unicidade. E querer ver neles apenas o lado da Utopia, do combate pela Liberdade, da tal Festa sempre inacabada. À espera dessa "coisa". Porque "essa coisa é que é linda", como canta o José Mário Branco.
OS AMANTES SEM DINHEIRO
Tinham o rosto aberto a quem passava.
Tinham lendas e mitos
e frio no coração.
Tinham jardins onde a lua passeava
de mãos dadas com a água
e um anjo de pedra por irmão.
Tinham como toda a gente
o milagre de cada dia
escorrendo pelos telhados;
e olhos de oiro
onde ardiam
os sonhos mais tresmalhados.
Tinham fome e sede como os bichos,
e silêncio
à roda dos seus passos.
Mas a cada gesto que faziam
um pássaro nascia dos seus dedos
e deslumbrado penetrava nos espaços.
Eugénio de Andrade
Comments:
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Disse muitas vezes este poema por o achar um dos mais belos poemas que escreveu. Hoje estou feliz por tê-lo feito.
:)
:)
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