31.3.05

JOSÉ ANTÓNIO GONÇALVES




O PÁSSARO MORREU

O pássaro morreu. Finou-se
em pleno voo. Foi um mal
que lhe deu. E foi-se.

As asas não cairam primeiro.
Pois primeiro caiu o silêncio
nos olhos da tarde. Derradeiro
foi o seu esgar. O Sol, afinal,
desconhecedor, apenas arde.

Uma profunda tristeza tomou
conta do vasto azul celestial.
Não deu para distinguir a sua
cor. Estonteado pelo dia, viu a lua
nos seus ímpetos espertos de pardal.
E depois o seu corpo de penas assomou
o verde da terra e amalgamou-se.

Ninguém escreveu a notícia.
Ninguém se importou.
Mas a verdade
é que neste fim de tarde
um pássaro morreu. Finou-se.
E o Sol, desconhecedor,
apenas arde.


José António Gonçalves

- A notícia chega como corda apertada no coração:"o nosso amigo José António Gonçalves deixou de ser visto".
Inclinamos o rosto para o lado luminoso da ilha e tocamos a ave-do-paraíso.
A língua portuguesa perde um poeta. A Madeira perde um dos seus melhores filhos.
Para a Gilda, para o Marco e para toda a família enlutada, esta flor solidária.




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