4.1.04

Eduardo Guerra Carneiro

A notícia chegou cedo e espalhou-se pelos jornais de ontem: o jornalista e escritor suicidou-se, na noite de 1 para 2 de Janeiro de 2004. "Já era previsível", disse-me um amigo. E eu também achei que sim, que parecia ser esse o caminho final por ele traçado, depois de uma filha também o ter assim deixado. A amargura era imensa, maior que os oceanos.
Quantas vezes, em conversa na Tertúlia, ali no Bairro Alto, lhe topei a tristeza disfarçada de aspereza, às vezes quase pedra fria. Dizia ele que a origem transmontana lhe dava aqueles picos de absoluta falta de ternura. Parecia sempre zangado, de mal consigo e com o mundo. Até porque não vale a pena ser meigo com o desespero ou a tristeza absoluta.
Ficam alguns livros de poemas, alguns livros de crónicas e muitas linhas perdidas por muitos jornais e revistas. "Isto Anda Tudo Ligado", de 1970, deu para uma frase quotidiana. E podemos citar:

"Ah, prosa, prosa! Danada me saíste por essas linhas fora. Não sei que fazer para sacudir de ti tanto lirismo que em ganga se move (...)."

Caro Eduardo, meu transmontano de gema, também tu deixaste, apenas, de ser visto. E foi-se o cordão de amargura que te prendia ao ar. Para te ouvir melhor, regresso aos livros que escreveste. E, acordado, adormeço.

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