14.10.03

O Ensino do Português

Basta este nojo (é a palavra) de Programa do 10.º Ano para dar azo a manuais repugnantes, ao nível do "Big-Brother" ou de algumas telenovelas. A Literatura Portuguesa fica nas crateras profundas dos séculos, onde dormem alguns fósseis de dinossauros, de berbigões e outros bivalves, de dodós aprisionados na ilha da Estupidez, comestíveis, mudos, incapazes de analisar a força predatória dos caçadores de analfabetos.
Já fui formador de professores de Português, durante alguns anos, e fico arrepiado com a proposta apresentada nesta coisa a que chamam "manual". Português B ? A Língua e a Literatura Portuguesas são sempre A ou AA. O nível de exigência varia mas, como uma casa, há sempre alicerces, portas e janelas, paredes, coberturas, isto é, uma estrutura primeira, um núcleo essencial.
Se me perguntassem a mim o que se passa no "Big-Brother" (ah, como gosto destas aspas!), ficaria no lugar do espanto. Até sinto problemas em escrever a composta palavra, tanto é o desejo de vomitar que sinto só de ouvir a sequência de fonemas. Quando zapo (saudações para o neologismo!), e me acontece "passar" por essa sarjeta, um só décimo de segundo me deixa encostado ao lado negro do excremento.
Por que será que os milhões de videntes do "Big-Brother" (ah, como gosto deste hífen!) não são condenados por crime de auto-estupidificação ? A pena? Presença obrigatória no Dia Nacional da Defesa, ao lado do Paulo Portas, qualquer que seja o concelho de origem. Quem pagaria? As autarquias, claro, que levantam penedos por todo o lado, mesmo em zonas protegidas. As ajudas de custo a pagar aos videntes poderiam servir para um só objectivo: provar que a estupidez também se paga.
(Nota: Os adjectivos deste texto aplicam-se, indiferentemente, aos autores do Programa e aos autores dos manuais.)

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