Este é mais um momento para reflectirmos sobre a "aliança das civilizações" e, mais concretamente, sobre a liberdade de expressão e respeito pelo outro.
Do editorial do jornal "El País" (05.02.2006)retiramos estas linhas que poderão ajudar a aprofundar o debate, agora exacerbado com a divulgação dos "cartoons" de Maomé:
"Acaso não ofende mais a sua religião quem invoca Alá e o seu profeta para rebentar aviões contra edifícios ou pôr bombas nos comboios? O caminho que se está iniciando repete o que conduz à "fatwa" contra Salmon Rushdie ou ao assassínio do cineasta holandês Theo Van Gogh.
Mas muito mais indecente no itinerário desta escalada contra o sentido comum é a instrumentalização que do ultraje religioso estão fazendo numerosos governos islâmicos e grupos com capacidade de agitação, que vêem na globalização e radicalização dos protestos uma forma de alienar mais os seus cidadãos e de camuflar as suas próprias e abismais carências democráticas. Esta orquestração corre a cargo de uma colecção de ditadores que vai desde a Mauritânia ao sudeste da Ásia e se faz ainda com o concurso dos mesmos clérigos e pregadores reaccionários que legitimam nesses países os poderes absolutos de quem lhem paga.
A liberdade de expressão é fundamento da organização social de que se dotaram os países mais progressistas do Planeta e da Europa em particular. A sua defesa como garantia última dos direitos que tornam possível o desenvolvimento humano nunca pode ser excessiva. O seu contrapeso é o senso comum, a decência e o respeito pela alteridade, que devem inspirar os actos de todos, especialmente daqueles que pela natureza do seu trabalho têm maior responsabilidade na cultura desses valores."