5.9.05




NO CABO DA ROCA

Neste ângulo avançado do continente europeu,
nesta mesa de terra exposta ao Atlântico ,
aqui, onde a terra se acaba e o mar começa,
a cento e quarenta metros acima do nível médio
das águas, só há o vento para ouvir - e a distância.

O farol pintado de vermelho dirá a quem vem de longe
que a terra está próxima e que este alcantil indica
trinta e oito graus e quarenta e sete segundos de latitude
norte - e nove graus e trinta segundos de longitude oeste.
Tudo tão rigoroso que nem tem perfume continental.

Por todo o lado, um tapete longo de chorões floridos
com rosas e amarelos dispersos - e alguns arbustos
que ainda suportam a força do vento neste ponto alto
de onde se vê céu e mar - um horizonte sem linha.
Aqui, um monumento mineral - uma cruz, uma lápide.

Para onde vai o vento, inclinam-se os pinheiros - pequenos,
com copas largas, tão perto do chão abrigadas. E Sintra
fica mais longe. Agora, em descida, passa-se a aldeia de Azoia.
É aqui o Cabo da Roca. Uma fenda, ao sul, revela um rio antigo.
As falésias, aqui, são de barro - estão prontas a partir para o mar.


Firmino Mendes, in "A Terra e os Dias"

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