1.6.05
ARISTIDES SOUSA MENDES
Hoje, às 17 horas,no MUSEU DA ÁGUA - CASA DO REGISTO (ao Rato, logo à direita de quem sobe a Rua das Amoreiras), é inaugurada a exposição documental "REGISTOS PARA A LIBERDADE", sobre ARISTIDES SOUSA MENDES.
Aristides Sousa Mendes, com o rabino Krueger, em Lisboa, no ano de 1940
VIDA
Aristides de Sousa Mendes nasceu a 19 de Julho de 1885, em Cabanas de Viriato, perto de Mangualde. Em 1910, iniciou a sua carreira de diplomata em Demerara, na Guiana Inglesa, seguindo-se, no ano seguinte, a colocação em Zanzibar, na Índia. Em 1918, exerceu funções em Curitiba, no Brasil, das quais foi suspenso, acusado de ser anti-republicano e anti-democrata. Passados dois anos, a pena foi-lhe levantada e Aristides apareceu colocado em S. Francisco, EUA, onde ganhou a animosidade de elementos da comunidade portuguesa, acusados pelo diplomata de favorecimento próprio à custa dos seus compatriotas. Aristides voltou então para o Brasil, onde permaneceu até ao golpe do 28 de Maio de 1926. Chamado a Portugal, seguiu no ano seguinte para Vigo, Espanha, e, depois, para Antuérpia, Bélgica, onde foi condecorado por duas vezes pelo rei Leopoldo III com as insígnias de Oficial da Ordem de Leopoldo e de Comendador da Ordem da Coroa. Entretanto, casou com uma prima, de quem teve 14 filhos. Em 1938, foi transferido para o consulado de Bordéus, França, onde se desenrolaram os acontecimentos que haveriam de transformar a sua vida.
Em 1940, perante o avanço das forças nazis em França, Aristides de Sousa Mendes e à revelia das ordens de Salazar, passou milhares de vistos que permitiram a cerca de 30 mil perseguidos do nazismo, dos quais 10 mil judeus, alcançar Portugal e daqui os EUA. A acção decorreu durante três dias e prolongou-se por Baiona e Hendaia onde, nesta terra fronteiriça, ainda conseguiu fazer passar uma coluna de mil refugiados, apesar das indicações dadas aos guardas espanhóis de não validade dos vistos passados pelo diplomata português.
A sua atitude mereceu a condenação de Salazar, que ordenou o seu regresso imediato a Portugal e lhe mandou instaurar um processo disciplinar sob a acusação de "desobediência, falsificação de escritos, abandono de lugar e concussão'. Aristides ainda se defendeu junto da Assembleia Nacional, mas o veredicto foi implacável. Em Outubro de 1940, foi condenado à "pena de um ano de inactividade com direito a metade do vencimento de categoria, devendo em seguida ser aposentado".
O diplomata conheceu então grandes dificuldades que o levaram a perder a família que se dispersou por diversos países e a ter de vender o património. Em 1954, no Hospital da Ordem Terceira, encontrou a morte depois de uma prolongada doença e muitos anos de uma vida próxima da miséria.
Casa do Registo
TEXTO DE APOIO DO MUSEU DA ÁGUA
A coragem e a determinação com que Aristides de Sousa Mendes assinou os vistos
que salvaram milhares de judeus permitiram-lhe sobreviver à perversidade de
Salazar que lhe roubou a vida, obrigando-o a uma existência de total miséria,
negando-lhe os direitos mais fundamentais, perseguindo-o e a todos os seus até à
morte.
Os regimes totalitários que assentam na manipulação, na hipocrisia e no medo não
suportam a afronta do Bem, da generosidade absoluta, da vontade de ser de quem
sabe quem é e o que quer ser.
Quando visitamos a sua casa em Cabanas de Viriato, sentimos a energia, a força
indómita de quem nunca soçobrou sequer por um segundo. Afirmava Aristides de
Sousa Mendes que preferia estar bem com Deus do que com os homens e acima de
tudo com ele próprio.
Precisamente por se ter encontrado e ter percebido que tudo o que precisava
estava dentro de si, pôde suportar a brutalidade e a ferocidade da perseguição
com a tranquilidade do dever cumprido.
Convido-vos a sentir e a olhar Aristides de Sousa Mendes a arrancar as tábuas do
soalho da casa para sobreviver ao frio implacável do inverno da Serra da
Estrela, a ver partir os filhos a quem ninguém empregava ou aceitava
socialmente, a deambular pelo desfiar das horas, dos dias, dos anos, sabendo que
nada mudaria até à sua morte e que jamais seria reconhecido como um ser humano
porque lhe foi recusado o direito da dignidade.
O medo é um sentimento desagregador que nos mutila e nos mata, brutalizando as
nossas percepções, aniquilando a criatividade, anulando a vontade.
O medo é o suporte de um aparelho ideológico, o discurso da perversidade,
semiótica da mentira.
Aristides de Sousa Mendes jamais teve medo: quando assinou os vistos sabendo que
seria o último dia da sua vida ou quando desfrutava o tempo que traria a morte.
O Estado Novo alimentava-se do medo e não suportou a afronta de um homem justo,
indomável e perfeito nas suas convicções. Ousou desafiar o regime cuja
perversidade impedia de elogiar a nobreza da sua decisão.
Aristides de Sousa Mendes resistiu sempre e venceu como paradigma exemplar da
mais pura elevação de que um ser humano é capaz.
Depois da sua morte, como um anátema, ninguém respeitou a sua memória e a casa,
talvez porque a perversidade se inscreve num complicado conjunto genético que
demora algum tempo a desaparecer.
O Estado Português e os Portugueses devem pedir desculpa a Aristides Sousa
Mendes e aos seus descendentes e tudo fazer para repor a verdade, pressuposto de
uma sociedade democrática e cuidar dos valores do seu pensamento, do seu
património tangível e intangível e seguir o seu exemplo: quando estamos certos é
preciso resistir sem medo, sempre.
O Museu da Água orgulha-se de acolher esta exposição e ajudará sempre à
reposição da Verdade.
Aristides Sousa Mendes e família
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http://antoniopovinho.blogspot.com/2005/10/cabanas-de-viriato-e-casa-do-passal.html
É necessário salvar a Casa do Passal, memória de um Homem Justo.
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