6.3.05

CORAGEM DO POETA





CORAGEM DO POETA
(AO POETA DA REVOLUÇÃO)

1
Rectificar o poema como texto de carta de além-mar:
seco, claro, com relevo, cada palavra alerta.
Talhar letra após letra em pedra dura e estreita:
quanto mais concisas as palavras, mais tensa a sua força.
A carga volitiva da ideia é igual às estrofes silenciadas.
Banir do vocabulário as palavras «beleza» e «inspiração» -
calão ignóbil dos rimadores... Para o criador ficam conceitos:
verdade, construção, plano, equivalência, laconismo e certeza.
No ofício sóbrio e tenso está o impulso e a honra do poeta:
numa substância surda-muda aguçar a vista penetrante.


2
O ritmo criador é o do remo que rema contra a corrente
e capta o inteiro nas guerras civis e entre nações.
Não ser uma parte, mas um todo: não de um lado, mas de ambos.
Ao espectador cativa-o o jogo - mas não és actor nem espectador,
és co-participante do destino que desvenda a ideia do drama.
Nos dias da revolução, ser Homem e não Cidadão:
não esquecer que bandeiras, partidos e programas são o mesmo
que ficha clínica para o médico do manicómio.
Ser proscrito em todos os reinados e regimes:
poeta é consciência do povo. Não tem lugar no Estado.


Maximilian Volóchin (Rússia, 1877-1932)

(Trad. Nina Guerra e Filipe Guerra)

(in «Rosa do Mundo - 2001 Poemas para o Futuro»,
Assírio & Alvim, 2001)


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