26.9.04
O ESTADO DA NAÇÃO (1)
É bem feito. Os sinais estavam lá. As novelas. As intermináveis e desconchavadas novelas em que todas crianças frequentam colégios da Linha e são louras e precocemente parolas. As Lux e as Flash. O telejornal da TVI.
O futebolês e a sua miríade de constelações e estrelas, as maiores,as menores e as anãs, os dirigentes, os agentes, os jogadores,as transferências e os treinadores de bancada e de café.
O 24 Horas e as suas manchetes sanguíneas e colunas rosa-choque. Os três diários desportivos. Os Big Brother's e as chusmas de indigentes que revelaram, geraram e adularam. Os caciques locais.
Felgueiras. Marco de Canaveses. A justiça, apoucada e achincalhada. A Alexandra Solnado e as conversas de Jesus com a cabritinha. As abstenções,galopantes. A política, trauliteira e lapuz. Os impropérios lançados a esmo, pelos carroceiros e pelas azêmolas que habitam o Parlamento e as autarquias deste país de Norte a Sul. Os deputados que o são porque dominam as concelhias. O triunfo da demagogia, a vitória fácil do populismo.
A farsa da Madeira, esse espectáculo pornográfico instalado há anos na Casa Vigia, onde perora um senhor anti-democrata e fascista,adulado por um dos dois maiores partidos portugueses.
A lenta agonia da Cultura. A asfixia da Ciência. A sangria,
continuada, mortal, dos nossos melhores homens e mulheres, em demanda de melhores países, de outras instituições que os animem, que os reconheçam. A invasão obscena do betão em tudo o que é Parque Natural, zona protegida,Rede Natura, arriba fóssil, rio selvagem, orla costeira.
As oportunidades perdidas. O Alqueva. Os fundos de Coesão. O Fundo
Social Europeu. Os subsídios à agricultura dados de mão beijada a pessoas que não sabem distinguir um cão de uma ovelha. Os jipes. Os condomínios privados.
Os montes no Alentejo. As férias no Brasil e as festas no Algarve.
Os milhares que provam, provado, o adágio que diz que quem cabritos vende e cabras não tem, de algum lado lhe vem.