19.4.04
POEMAS DO DIA
CRISTAL
cresce o melro no ovo
e dentro do ninho
a combustão do universo
o que é de agora
não é a pausa
pois o tempo tem pressa
de ser tudo em simultâneo
e desce o regato côncavo
onde meninas tomam banho
à magra estação de schindler
os dias continuam a nascer
e dentro do ninho
cresce o melro no ovo
AVÓ EM TELHADO DE COLMO
fazia o tapete de retalho
quase cega por já não ser outrora
um rio bravo, o seu riacho
o tapete tecido
com retalhos de carinho
aquecia um quarto
e a velhinha sabia
do seu tear dependia aquela casa
e toda a sabedoria do planalto
(in "O Templo Móvel", Col. Autores da Madeira, Campo das Letras, 2002)
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São Moniz Gouveia (n. Madeira, 1967; tendo recentemente adoptado o nome Laura), a frequentar estudos superiores, reside regularmente entre o Funchal e Pisa (Itália), tendo integrado a colectânea "Poeti Contemporani dell'Isola di Madera", organizada por Giampaolo Tonini, em 2001. Revelou-se com "11 Poemas de Crisálida", na "Ilha 4" (CMF, 1994), dirigida por José António Gonçalves, tendo ainda participado nas obras colectivas "Poet'Arte 90" e "Vers'Arte 91", entre outras. Tem colaboração dispersa em diversas revistas e jornais ("JL-Jornal de Letras", "Islenha", "Margem", "Diário de Notícias" do Funchal, "Tribuna da Madeira", entre outras). "Cartas para um Tenente" (com prefácio e direcção editorial de José António Gonçalves) representou a sua primeira edição individual, na Colecção "Cadernos Ilha", nº. 8, 1996, após o que publicou "O Templo Móvel", na Colecção "Autores da Madeira" da Editorial "Campo das Letras" (2002), "Lupus in Fabula" (Colecção "Livros de Cordel", nº. 10, 2002) e "A Musa das Coisas Pequenas", Colecção "Terra à Vista", nº.2, "Arguim", 2002).