13.4.04
MISHA GORDIN
Quando o mundo cansa, quando as notícias
parecem chegar do mesmo lado ou da mesma
gruta obscura onde se agitam os pesadelos
Quando o futuro cai como uma faca sobre as rosas
e se adivinha uma estrada sem saída ou um inverno
inteiro para cobrir de vez as ervas tenras da savana
Chega a música que unifica todas as artes. E regressamos
a casa, ao trabalho, às longas caminhadas ou ao pensamento
débil que permite, ainda, a névoa de manhã e orvalho no jardim
Fotografias de Misha Gordin, que podem ser vistas na Periférica, uma das revistas quepode perturbar os dias de cinza.
«Em vez de fotografar realidades existentes, decidi fotografar as minhas próprias realidades imaginárias. Comecei a fotografar conceitos.
O processo é semelhante à encenação de uma peça de teatro. Começa com uma ideia (argumento) e depois é preciso encontrar o local (palco) e os modelos (actores) apropriados; há que tomar decisões quanto à iluminação e ao guarda-roupa, tirar fotografias preliminares (ensaios) antes do dia da verdadeira sessão fotográfica (a noite de estreia).
Tem muitas semelhanças não só com o teatro, mas também com o cinema, a poesia, a pintura, a escultura e a música. Todos começam por um conceito e depois seguem-se o guião ou a composição, os esboços, as afinações... E todos reflectem possíveis respostas às maiores questões que se colocam a alguém: nascimento, vida e morte.
Mas a fotografia tem uma vantagem: a sua verosimilhança. Nós temos uma tendência subconsciente para acreditar que aquilo que vemos fotografado tem de existir.»
Misha Gordin