26.4.04
Há 30 ANOS, CAXIAS
HOJE.
FAZ HOJE 30 ANOS!
COMO NÃO LEMBRAR?
COMO NÃO ESQUECER?
Lisboa · Sexta-Feira, 26 de Abril de 1974
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Situação dramática na prisão de Caxias
Às 22 horas de ontem, a comissão executiva da C. D. E. de Lisboa divulgou a seguinte nota:
«O Movimento C. D. E. de Lisboa torna pública a sua profunda apreensão pela situação dos presos políticos encarcerados na prisão do forte de Caxias.
Para além de considerar - conforme já divulgou - que a libertação de todos os presos políticos constitui ponto primordial de qualquer programa de actuação para o futuro do País, o Movimento C. D. E . de Lisboa afirma existirem razões para recear pela sorte que quantos pagam, nos cárceres de Caxias, a sua dedicação à luta do povo português.
Não existem, até agora, quaisquer informações de que as instalações do forte de Caxias tenham sido libertadas.
O Movimento C. D. E. de Lisboa declara que a permanência da prisão de quantos nela se encontram, nas mãos da Pide/D. G. S., constitui um problema cuja solução é dramaticamente urgente. A possibilidade de represálias por parte dos criminosos que preenchem os fileiras da Pide/D. G. S. sobre os prisioneiros de Caxias cria a necessidade da sua defesa.
Há vidas em perigo.
O Movimento C. D. E. de Lisboa responsabiliza desde já, colectiva e individualmente, a Pide/D. G. S. e os seus membros por tudo o que possa acontecer aos presos de Caxias.
O movimento C. D. E. de Lisboa declara condição primordial para o prosseguimento do processo agora encetado a imediata resolução da situação dos presos no forte de Caxias.»
(N. da R.) - Ás 2 horas de hoje, a situação na prisão de Caxias ainda não se encontrava esclarecida. O forte continuava guardado por forças da G. N. R. que impediam o acesso ao parque n.º2. Os presos estavam recolhidos nas celas, sendo a iluminação normal. Carros sem qualquer distintivo especial bloqueavam os acessos. As guaritas do reduto norte estavam ocupadas por forças da G. N. R., em posição de tiro.
(in O Século")
Lisboa · Quinta-Feira, 26 de Abril de 1974
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Libertados alguns dos presos de Caxias
Ao fim da manhã de hoje, a grande maioria dos oitenta e um prisioneiros de Caxias foram libertados por duas companhias- pára-quedistas e fuzileiros navais- das Forças Armadas. Estranhamente, a Junta de Salvação considerou delitos comuns as acções políticas de alguns dos prisioneiros (Paulo Inácio, entre outros) e decidiu mantê-los nas respectivas celas.
A acção foi decidida às primeiras horas da manhã após sistemáticas pressões de alguns dos mais jovens oficiais do Movimento que reclamavam a imediata libertação de todos os presos políticos.
Assim às 7 e 50 da manhã uma companhia de pára-quedistas, vindo de Monsanto, comandado pelo capitão Braz chegou às imediações do forte de Caxias. Vinte minutos depois, e sem qualquer resistência uma companhia da GNR acordo com o comando pára-quedista, as forças navais [...] posições do chamado reduto norte do Forte de Caxias, onde se localizavam as celas prisionais.
Às 8 e 30 chegava uma companhia de fuzileiros navais chefiada pelo capitão da Marinha, Abrantes Serra. De acordo com o comando pára-quedista, as forças navais montaram novo dispositivo de segurança, exterior ao forte. A acção deste destacamento da Armada tinha como objectivo garantir a segurança dos presos políticos, permitindo assim o ataque às forças da PIDE acantonadas na sede da Rua António Maria Cardoso, que mais tarde viriam a render-se.
As duas forças foram aclamadas à chegada ao forte por dezenas de familiares dos presos que (com lágrimas de alegria) esperavam desde ontem a libertação.
Às 9 e 15 os dois comandantes das forças destacadas subiram a escadaria que conduz às celas e ordenaram aos guardas prisionais presentes a abertura das primeiras celas. Poucos minutos depois saíam os primeiros detidos entre os quais os nossos camaradas Figueiredo Filipe, Fernando Correia, Albano Lima, Sérgio Ribeiro e Mário Ventura Henriques. Saíram também Saldanha Sanches, José Tengarrinha, Helena Neves, Vítor Dias, Nuno Teotónio Pereira, Gorjão Duarte, Mário Sena Lopes, Pedro Fernandes, e outros.
Sucederam-se os abraços e cenas de grande emoção com as equipas de jornalistas presentes na libertação. De algumas janelas das celas alguns dos detidos aguardando a saída, acenavam com lenços vermelhos e de punho bem erguido.
Entretanto uma ordem vinda da Junta de Salvação determinava que fossem libertados apenas os prisioneiros políticos». Aqueles que, estiverem a cumprir, também penas de delito comum permaneceriam detidos.
Para espanto dos jornalistas presentes- que não podiam compreender a distinção feita entre os prisioneiros de Caxias, todos detidos por razões de ordem política, pois os chamados crimes de delito comum tinham um carácter notoriamente político- os detidos voltaram às respectivas celas até que se apurassem quais permaneceriam e quais sairiam.
Assim Palma Inácio, que no primeiro momento da sua saída declarava que isto não signifique apenas a liberdade para nós, mas para todos os portugueses, voltava à cela n.º3 onde se encontrava há seis meses,
No Hospital-Prisão de Caxias os heróicos militantes José Magro (20 anos nas prisões fascistas), António Dias Lourenço, Rogério Rodrigues Carvalho e Miguel Camilo (ainda em estado grave), eram informados da libertação pelos familiares que desde a tarde de ontem não arredaram pé do portão principal.
(in "República")
DIA 26
01h30 - A Junta de Salvação Nacional - de que fazem parte o capitão-de-fragata António Rosa Coutinho, coronel Carlos Galvão de Melo, general Francisco da Costa Gomes, brigadeiro Jaime Silvério Marques, capitão-de-mar-e-guerra José Pinheiro de Azevedo e o general Manuel Diogo Neto, ausente do Continente - apresenta-se à Nação, através da Rádio Televisão Portuguesa, lendo uma proclamação e tendo o general António de Spínola como Presidente.
c. 07h00 - O tenente-coronel Almeida Bruno desloca-se à Rua Almirante Saldanha, ao Restelo, para solicitar ao ex-Presidente da República, Américo Tomás, que o acompanhe ao aeroporto a fim de embarcar no DC-6 que o conduzirá à ilha da Madeira.
- O tenente-coronel Lopes Pires acompanha ao aeroporto o ex-Presidente do Conselho, Marcelo Caetano e os ex-ministros Silva Cunha e Moreira Baptista.
07h30 - O major Vítor Alves lê, perante a Comunicação Social, a versão definitiva do Programa do MFA.
07h40 - O DC-6 levanta voo da pista da Portela e parte rumo ao Funchal.
09h46 - Na Rua António Maria Cardoso, sede da PIDE/DGS, verifica-se a rendição incondicional daquela polícia política, sendo o edifício ocupado por forças do Exército e da Marinha
c. 10h00 - Rendição do Forte de Caxias.
11h00 - Salgueiro Maia e as forças da EPC ocupam o edifício da Secretariado-Geral da Defesa Nacional, na Cova da Moura, onde a Junta de Salvação Nacional e o MFA passarão a funcionar.
13h00 - Inicia-se a libertação dos presos políticos nas cadeias de Caxias e Peniche.
- Divulga-se o Programa do MFA que havia sido apresentado pelo major Vítor Alves, no Quartel da Pontinha, ao princípio da manhã, depois da 1ª conferência de imprensa da Junta de Salvação Nacional.