3.7.04

SOPHIA (1919-2004)





PÁTRIA

Por um país de pedra e vento duro
Por um país de luz perfeita e clara
Pelo negro da terra e pelo branco do muro

Pelos rostos de silêncio e de paciência
Que a miséria longamente desenhou
Rente aos ossos com toda a exactidão
Dum longo relatório irrecusável


E pelos rostos iguais ao sol e ao vento

E pela limpidez das tão amadas
Palavras sempre ditas com paixão
pela cor e pelo peso das palavras
Pelo concreto silêncio limpo das palavras
Donde se erguem as coisas nomeadas
Pela nudez das palavras deslumbradas

- Pedra rio vento casa
Pranto dia canto alento
Espaço raiz e água
Ó minha pátria e meu centro

Me dói a lua me soluça o mar
E o exílio se inscreve em pleno tempo


SOPHIA DE MELLO BREYNE ANDRESEN (1919-2004)



"(...) Que a morte será simples como ir
Do interior da casa para a rua."

(do poema "Sinto os Mortos"




(Nasceu,no Porto, a 6 de Novembro de 1919; morreu ontem, 2 de Julho de 2004. Fica uma obra imensa e diversa, sobretudo poética (ela que detestava o nome "poetisa" e dizia ser "poeta" de corpo inteiro).
Uma memória: um almoço a sós, num restaurante do centro histórico de Guimarães, seguido de um passeio entre-muralhas, em 1992; outra memória: a vista da casinha da Meia Praia, ali ao pé de Lagos, frente ao mar e à luz forte do Sul; outra memória, ainda: a releitura do Livro Sexto, há dias, antes do jogo Portugal-Inglaterra, para combater a ansiedade e fugir para os caminhos da mais simples beleza.)


Comments:
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