27.6.04
POEMA DO DIA
Esquecida que já morta ainda sorria,
De branco, entre os nenúfares, do lago
Dava às mãos forma de cisne, e ao corpo afago
De enamorado pudor em tarde fria.
Do seio em flor, que a luz esmorecia,
Sobe um rasto de prata, e aroma vago
Embala-a de ausência, o aziago
Luar, sonho de Ofélia, ao fim do dia.
Do leito verde, a ondulação quebrada
Toca a fímbria da saia. Por onde andou
A sombra que com ela quis morrer?
Pela fronte pensativa de afogada,
Que o espinho, em silêncio, ensanguentou,
Ergue-se agora, pé ante pé, o amanhecer.
VERGÍLIO ALBERTO VIEIRA
(in «Crescente Branco", Campo das Letras, 2004)