21.10.03

Brel e Piaf

Passaram dois aniversários de dois grandes da canção. Quatro letras no nome, duas vozes ao quadrado.
Edith Piaf, nascida a 19 de Dezembro de 1915 (no dia em que o nosso Vitorino Nemésio fazia 14 anos), morreu em 11 de Outubro de 1963. Há quarenta anos, portanto. No caminho ficou uma voz inesquecível de "pequeno pardal" e canções como "La Vie en Rose", "Sous le Ciel de Paris" ou "Je ne Regrette Rien". Para mim, Paris respira ainda a voz de Piaf, como um fado de Lisboa que mudou de tom na longa viagem. Ao recordar as ruelas e ruas da "Rive Gauche", os jardins ou as grandes avenidas de Paris, é Piaf que aparece colada aos "bistrots", aos "demi", ao "vin ordinaire". Na cidade das paixões, quando o tempo pára para a demora dos olhos, há um não sei quê de fulgor que entra naqueles lugares onde passaram Rimbaud, Baudelaire ou Van Gogh, Gauguin, Jarry ou Cocteau. E as multidões da República de 1789 e os Direitos do Homem e a Liberdade, Igualdade e Fraternidade e, depois, as multidões da Comuna de 1781 e o massacre no cemitério do Père Lachaise. E agora? Lá anda o Jean Ferrat, o Michel Maffesoli, a Catherine Ribeiro, o Zé Machado, o Heitor da Livraria Lusófona e tantos outros que dói não referir. Com Piaf, ao lado do Sena, Paris é o umbigo do mundo.
E Jacques Brel ? Mais francês que belga, atravessado pelo trilinguismo de um país recentíssimo de duzentos anos, voou para as ilhas oceânicas, onde a voz se pode encontrar mais perto do coração dos pássaros. De tantas canções que perduram na memória de água, fixo uma que me levou ao campo aberto das viagens: "Amsterdam". E essa Amesterdão de marinheiros que cantam, que dormem, que comem e bebem, leva-nos à fragilidade de todos os que habitam as casas dos andarilhos, os veleiros, os filhos dos ventos mais fortes. Depois, há "Ne me Quitte pas" e a dor mortal de todas as partidas e "Quand on n'a que l'Amour" ou, simplesmente, leve como uma folha de choupo que cai no Outono, "Les Bonbons". Foi há vinte e cinco anos que morreu? Como acreditar?

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