18.12.04

NATÉRCIA FREIRE





MORREU A POETA
NATÉRCIA FREIRE


Natércia Freire faleceu ontem,em Lisboa, aos 85 anos. A escritora recebeu o Prémio Nacional de Poesia, em 1971, e distinguiu-se como jornalista pela coordenação, entre 1954 e 1974, da página de Artes e Letras do jornal Diário de Notícias.

O corpo da poeta estará em câmara ardente, a partir das 19h00, no Mosteiro dos Jerónimos e o funeral segue sábado à tarde para o cemitério da Ajuda, em Lisboa.

Nascida em Benavente (Santarém) em 1919, Natércia Freire deixou várias obras de poesia, entre as quais «Os Intrusos», que lhe valeu o Prémio Nacional de Poesia.

«Rio Infindável» (1947) e «Anel de Sete Pedras» (1952), ambos galardoados com o Prémio Antero de Quental, e «Antologia Poética», editada pela Assírio & Alvim em 2001, fazem parte também da obra poética de Natércia Freire, conhecida também - na área da prosa -, pela publicação de vários contos.

CANÇÃO DO VERDADEIRO ABANDONO

Podem todos rir de mim,

podem correr-me à pedrada,

podem espreitar-me à janela

e ter a porta fechada.


Com palavras de ilusão

não me convence ninguém.

Tudo o que guardo na mão

não tem vislumbres de além.


Não sou irmã das estrelas,

nem das pombas nem dos astros.

Tenho uma dor consciente

de bicho que sofre as pedras

e se desloca de rastos.


P.S. Para a Ana Lúcia, filha, e para o Pedro Sena-Lino, aquele abraço!



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