10.5.04
OSSIP MANDELSTAM
Se for preso pelos nossos inimigos,
Se as pessoas não falarem comigo,
Se de tudo e de todos for privado:
Do direito a respirar e abrir as portas,
Do direito a afirmar que haverá vida
E que, como juiz o povo julga -
Se me tratarem como a um animal,
Se me atirarem a comer prò chão -,
A dor não amordaço, não me calo,
Mas o que for de desenhar, desenho,
E ao abalar o sino nu dos muros,
Ao despertar o canto escuro inimigo,
Vou atrelar dez bois à minha voz
E no escuro o arado enterro e guio -
E nas profundezas da noite, noite alerta,
Olhos se acendem para a terra fértil,
E pois na hoste de fraternos olhos apertado,
Co peso de toda a colheita eu cairei,
De impetuoso juramento é a seara -
E romperá de anos ardentes uma alcateia,
Como tempestade madura vai Lenine
Murmurar. Não haverá putrefacção na terra,
Assassinará razão e vida o Estaline.
Fevereiro-Março de 1937
OSSIP MANDELSTAM (1891-1938)
(Bruce Chatwin refere Ossip Mandelstam no seu "Que Faço Eu Aqui" (Ed.Quetzal), falando desses que caminhavam para os campos de morte stalinistas e que eram transportados em "vagões de gado".
Foram milhões. Ossip Mandelstam entre eles.
Este poema foi escrito um ano antes da morte, aos 47 anos. Com a mesma idade de Fernando Pessoa e,apenas, três anos depois da morte do autor da "Mensagem".
Nasceu em 15 de Dezembro de 1891 e morreu num campo siberiano, em 27 de Dezembro de 1938.
Mais um sagitário que conheceu o frio e que morreu no tempo do frio mais frio.
Preso,a mando de Staline, em 16 de Maio de 1934.
Há 70 anos.)
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