22.3.04
Maria João Pires
A notícia é simples e vem publicada no último Expresso, com o título "Maria João Pires arrasa Governo". Como é pequena, podemos transcrevê-la na íntegra:
"A pianista Maria João Pires arrasa o governo e os políticos portugueses numa entrevista ontem publicada no jornal "El Pais". Acusa o ministro da Educação , David Justino, de lhe ter reduzido sem explicações as ajudas financeiras para o centro de Belgais e avisa que não participará "em mais mentiras".
"O meu país não tem consistência e, mais grave, não se interessa por educação", conclui a pianista".
Ficamos quase espantados. Dizemos "quase" porque parece esperada uma atitude de menosprezo por um Centro Cultural como o de Belgais. Cheira a infância, cheira a música, cheira a cultura.
A crítica de MJP é dramática e não pode ficar impune. Publicada em Espanha, transmite uma imagem "realista" de um país que esquece o essencial, que mantém milhares de professores no desemprego, enquanto o analfabetismo e a iliteracia campeiam; que mantém turmas enormes, onde é quase impossível trabalhar; que não tem apoios individualizados para os alunos de outras línguas maternas que abandonam o sistema por se sentirem frustrados. E mil outras coisas.
Dos seus trabalhos, vale a pena referir alguns recentes sucessos discográficos: assinalam-se os Cd’s "Moonlight", com Sonatas de Beethoven; "Le Voyage Magnifique", integral dos Impromptus de Schubert; Nocturnos e outras obras de Chopin; Trios de Mozart com Augustin Dumay (violino) e Jiang Wang ( violoncelo ); de Schumann; o Concerto de Piano com a Orquestra da Câmara da Europa dirigida por Claudio Abbado, e o quinteto em que colaboram Augustin Durnay, Renaud Capuçon, Gerard Coussé e Jiang Wang; e merecida referência a um primoroso CD gravado ainda na Erato, Sonatas e a Fantasia de Mozart, entre tantos outros belíssimos registos.