MEDITAR EM LISBOA
Queria desconhecer os arcos e túneis das cidades,
os aquedutos sem água sobre as casas, imitando a pedra-ançã,
com jardins encostados a recantos sem vento e sem ar do mar.

Quem me dera não saber o lugar da morada das coisas
mais pequenas, onde se pode tocar o pólen e juntar os dedos para
as nuvens acumuladas em cima. Largar a vida

e saborear o gesto de dividir mais sementes pelos campos. As flores
vermelhas de Junho trazem meses de atraso e os acantos
estremecem debaixo das árvores de Lisboa.

O rio atravessa a folhagem e há os barcos e os cargueiros metálicos.
A água transformou-se em espelho de líquidos suspensos
e, do lado de lá, revê-se a terra húmida.

Se as ruas queimassem as margens e ardessem de doçura na cidade,
como um corpo breve a dissolver-se à porta das casas e dos muros,
o que seria de nós, ó caminhante afastado ?

Não te esqueças dos arcos e dos prolongamentos das avenidas.
As festas durarão até tarde e todos esquecerão a árvore derrubada
onde se abre um silêncio na raiz. O que há-de ser

dos animais que não compreendem a falta de alimentos ? À tarde,
com a pele aquecida pela última bala do último caçador, a Terra
chamará a si a palavra - a estrela aberta.

FALTAM 4 DIAS PARA O NOSSO ENCONTRO!
TRAGAM OUTRO AMIGO TAMBÉM!

JANTAR DA IRMANDADE BLOGUEIRA
de homenagem ao Fernando Bizarro,
em Carnaxide, no Restaurante Alfredo,
no dia 24 de JUNHO.

Inscrições, aqui:
http://kasualmente.blogspot.com/

Há 53 anos, em 19 de Junho de 1953, foram condenados à morte Ethel e Julius Rosenberg, ele com 37 e ela com 35 anos. Deixaram dois filhos órfãos, com 10 e 6 anos. O casal Rosenberg continua a ser um exemplo da infâmia que a pena de morte constitui.
E porquê falarmos dela?
Porque neste último fim-de-semana (17 e 18 de Junho), em Casablanca, foi ratificada a Convenção da ONU contra a pena de morte e lançado um apelo aos países árabes para que procedam à sua abolição definitiva.
É uma boa notícia.

Filipe II
Interessante, este país.
Hoje, 13 de Junho, lembramos o primeiro santo popular, Santo António, morto em Pádua, na Itália, com 36 anos, em 1231. E esquecemos que, em 13 de Junho de 1580, o duque de Alba ocupou Portugal, por conta do rei de Espanha, Filipe II de Habsburgo, que reivindicava a coroa portuguesa, depois da morte de D. Sebastião, em Alcácer Quibir.
Camões teria morrido três dias antes, em 10 de Junho de 1580.
E esta "ocupação" filipina demoraria sessenta anos, até 1 de Dezembro de 1640.

Interessante o que lembramos.
Interessante o que esquecemos.

JANTAR de homenagem ao Fernando Bizarro,
em Carnaxide, no Restaurante Alfredo,
no dia 24 de JUNHO.

Inscrições, aqui:
http://kasualmente.blogspot.com/

2.

Vamos ao fundo do rio, quando as águas amansam para dentro
como o vale que se recolhe no lugar antigo dos primeiros veios.
É o lugar húmido do lodo, das ervas amansadas, dos fios verdes
que se estendem para lá das raízes que nascem nas margens.

Aparece uma curva de argila, um raio de sol que bate nela.
O movimento brando do leito traz a luz de longe, o sopro
das cavidades ocultas na pedra mais fria da nascente.
Pode ser o brilho da mica que restou das areias antigas.

Ou uma folha da montanha que recolheu o sol do meio-dia
e petrificou um raio para poder guardar todas as lembranças
da infância e da vida breve que teve no lugar alto da serra.
Ou um fio da coroa mais quente de um planeta por descobrir.